terça-feira, 4 de abril de 2017

Alguns fatos sobre o transporte em São Paulo

São Paulo é uma cidade imensa com inúmeros fatos que ainda são desconhecidos por pelo menos a maioria da população. Se somarmos a região metropolitana esse número dobra de tamanho. Aqui vai alguns fatos sobre o transporte em São Paulo e região. 
  • O Metrô e a CPTM não são tão diferentes o quanto você pensa
Normalmente se você perguntar a qualquer passageiro que usa o Metrô e/ou a CPTM sobre qual é a mais rápido ou confiável, é claro que muitos responderam que o Metrô é mais ágil e rápido e que a CPTM é antiga e lenta. Mas você sabia que ambas não possuem tantas diferenças assim?
Cada uma possui características distintas para o tipo de demanda ou operação. O Metrô atende as regiões mais centralizadas da cidade, basta observar o mapa da rede metro-ferroviária e perceber que o metrô chega apenas nos centros comerciais e regiões mais centrais dos bairros. Já a CPTM possui uma característica mais metropolitana por atender não só a bairros mais afastados do centro, mas como cidades da região metropolitana ou de outras regiões metropolitanas. 

Sistema de Transporte Metropolitano Paulista.
Autor: Gustavo Bonfate, 2015.

Outro fator que diferencia mais as duas é que o Metrô paulistano foi criado do zero com vias e estações novas, enquanto que a CPTM assumiu a malha férrea de companhias mais antigas como FEPASA e Rede Ferroviária Federal S.A. que já estavam sucateadas por conta dos baixos investimentos. As composições que circulam na CPTM, no geral, são maiores que as composições do Metrô pois possuem 08 carros de passageiros, enquanto do metrô somente 06. O sistema de alimentação elétrica também é bem diferente entre um e outro. No metrô a energia é conduzida pelo terceiro trilho, um equipamento que fica no nível das rodas do trem, e possui 700 Volts de Corrente Contínua. No caso da CPTM a energia é conduzida pela rede aérea, conjunto de fios que ficam acima da composição, com 3.000 Volts Corrente contínua.

Diferenças entre a CPTM e o Metrô.
Fonte: CPTM em foco.

Alguns fatos em que são similares é que tanto uma quanto a outra são um meio de transporte sobre trilhos que se difere apenas em que tipo de demanda irá atender, mas ambos podem operar com qualidade e agilidade, operando por debaixo da cidade ou em superfície.
Mas ambas são subordinadas ao governo estadual, se uma ou outra não tiver investimentos isso deve ser cobrado também do governador.
  • Falida em transporte
Para uma metrópole que é São Paulo, se o seu transporte coletivo não funciona corretamente, então a cidade fica travada e completamente quebrada no quesito mobilidade urbana. Não pense que no passado não faltaram projetos e soluções para esse problema mais antigo que tudo, porém como o Brasil preferiu investir mais no ramo rodoviário durante as décadas de 60 e 70, o resultado só podia ser o que vemos atualmente em diversas avenidas paulistanas: trânsitos terríveis, acidentes, prejuízos financeiros e físicos aos cidadãos que todos os dias precisam enfrentar o caos criado pelo uso massivo do transporte particular.
Se houvesse mais linhas de metrô, trem ou então mais tipos de transporte na cidade como os Bondes modernos (VLT - Veículo Leve sobre Trilhos), BRT (do inglês Trânsito Rápido de Ônibus), ou ciclovias de verdade, talvez o problema fosse amenizado. Mas a situação chegou a um ponto muito crítico e, mesmo com ampliações da rede do metrô, ainda seria insuficiente para solucionar de verdade o problema. 

Relação de espaço entre os sistemas de transportes.
Fonte: Mobilize.org.

Uma solução viável, principalmente para o momento da economia nacional, seria levar comércios, indústrias e pólos comerciais para mais distantes do centro, indo a bairros mais periféricos, para melhor distribuir os serviços públicos, a tão sonhada “descentralização”, algo que parece que não virá tão cedo.
  • Uma cidade frágil em mobilidade
Imagine uma São Paulo sem metrô, sem trem e sem ônibus. Se com esses transportes públicos a situação do trânsito é caótica, imagina se não existissem ou fossem menores do que são atualmente? Uma “prova” desse argumento é os dias em que o Metrô paralisa suas operações por motivos diversos, greves ou problemas técnicos. Se esse problema durar mais de uma hora, bairros como Sé, República, Consolação, entre outros, simplesmente travam. Avenidas radiais que levam ao centro da cidade ficam congestionadas, o que atrasa compromissos e gera frustração coletiva entre os cidadãos. 
O transporte público tem sim sua importância em uma grande metrópole, sem eles a cidade travaria de norte à sul e de leste à oeste, pois imagina toda a população, não só da cidade, mas como de outras, usassem somente os carros? Seria um caos completo.

Congestionamento de carros e ônibus na Radial Leste em um dia de greve do Metrô.
Fonte: G1-SP.
  • Incentivar o cidadão a deixar o carro em casa
Quando uma linha de metrô chega a algum bairro que só era atendido por ônibus, não são apenas os passageiros desses ônibus que migram para o metrô, mas quem mora nesses bairros e usa o carro para atividades diversas também começam a usar o transporte sobre trilhos. Com essa migração carro - metrô, o trânsito da cidade fluiria melhor e o tempo de viagem também melhoraria, isso que deveria acontecer cada vez mais. Mas, infelizmente o ritmo de expansão da malha do metrô e da CPTM não motiva muitos usuários de que ficará pronta tão cedo, vide as obras da Linha 15-Prata do Metrô que chegará a seu oitavo ano em obras e apenas 2,9 km e duas estações foram entregues, isso porque o governador Geraldo Alckmin anunciou em 2009 que a opção do monotrilho para a Linha 15 foi feita visando o baixo custo de construção e o baixo tempo de obras, bom... nada a declarar.
Se não houver incentivos, não haverá mudanças e com isso a cidade permanecerá inviável para se viver.

Composição do Monotrilho alinhado na Estação vila Prudente.
Autor: Gustavo Bonfate.

  • BRT na cidade
Uma opção de transporte que se tornou muito defendida é o BRT (Bus Rapid Transit - Trânsito Rápido de Ônibus) que é uma opção mais rápida que os corredores de ônibus comum. Implantado pioneiramente em Curitiba na década de 1970, o BRT é muito usado em casos em que o metrô é inviável de ser implantado ou não possuir características essenciais para tal como demanda ou viabilidade financeira. 
Em São Paulo, o BRT poderia ser implantado em vias em que o metrô não chega como a Avenida 23 de Maio, a Marginal Tietê, ou o Mini Anel viário de São Paulo que inclui as avenidas Bandeirantes, Tancredo Neves, Juntas Provisórias (onde já possui o BRT Expresso Tiradentes), Anhaia Mello e Salim Farah Maluf. 
Atualmente, apenas o Expresso Tiradentes atende a alguns requisitos de BRT que é cobrança antecipada em estações, exclusividade na operação dos ônibus, controle de partidas e atendimento diferenciado. Já o Corredor São Mateus - Ferrazópolis - Jabaquara da EMTU se assemelha mais a um corredor de ônibus, porém com características de metrô por integrar cidades e bairros distantes a estações do metrô/trem.
Vale lembrar que muitas cidades ao redor do mundo optaram pelo BRT para solucionar o problema dos congestionamentos nas cidades, ou seja, não é só metrô que pode ajudar na mobilidade, o ônibus também tem seu papel na estruturação de uma metrópole, basta ser implantado com eficiência e investir mais em outros modais de transporte.

Estação Pedro II do Corredor Expresso Tiradentes.
Autor: Gustavo Bonfate.
  • Ir ou sair dos aeroportos pode ser difícil
Pode parecer piada para muitas pessoas, mas atualmente nenhum dos aeroportos de São Paulo, Congonhas e Guarulhos, possuem uma ligação direta com a rede de metrô e trem. Enquanto em muitos países e até cidades brasileiras os aeroportos são atendidos pelo metrô ou pelo trem, na maior capital brasileira isso é apenas um sonho para os passageiros, e olha que ambos os aeroportos são muito antigos: Congonhas foi inaugurado em 1936 e está a 10,6 km do centro da cidade, e Guarulhos em 1985 e está distante da cidade à cerca de 36 km. Para acessar esses aeroportos, o passageiro precisa se deslocar até uma estação de metrô/trem mais próxima e utilizar ônibus até os referidos aeroportos, o que aumenta ainda mais o desestimulo do transporte público. Mesmo com a Copa do Mundo em 2014, quase nenhum legado foi deixado, ou nada no caso de São Paulo, pois a Linha 17 Ouro do Metrô que atenderia Congonhas ainda está em obras e a Linha 13 Jade da CPTM que atenderia Guarulhos só começou as obras em 2012, dois anos antes do Mundial, embora no caso da Linha 13 as obras avançaram mais do que a Linha 17.

Obras da Estação Aeroporto de Guarulhos, próximo ao Terminal Metropolitano Taboão.
Autor: Gustavo Bonfate.

Obras da Linha 17-Ouro, próximo a Estação Morumbi da CPTM.
Autor: Gustavo Bonfate.
  • Cuidar do seu patrimônio
O transporte público, como o próprio nome diz, é público, é de todos. Porém, muitas pessoas esquecem-se disso e acabam por quebrar o próprio patrimônio achando que o governo irá melhorar o transporte. Vandalizar trens, ônibus, pontos de ônibus e estações é jogar o seu dinheiro no lixo, pois para reparar o mesmo, será retirado o dinheiro que seria para melhorar a educação, a saúde ou usado em programas sociais, já pensou nisso? Cada vez que algum individuo vandaliza o patrimônio público, são as demais pessoas que perdem com isso e não o governo. Se mais ônibus forem queimados em manifestações ou trens forem vandalizados, o governo irá reduzir os investimentos e não aumentá-los, irá retirar linhas de ônibus da periferia, vai deixar de repor a frota em operação, vai retirar incentivos para o transporte público, enfim, o prejuízo será diretamente direcionado a nós mesmos. Lembre-se: Cobrar melhorias é uma coisa, vandalizar esperando algo melhor em troca é totalmente diferente e absurdo.
Trem recém chegado na CPTM vandalizado.
Foto retirada do blog Modal Ferroviário e Mobilidade Urbana, crédito ao autor.
  • Por que não ter metrô em todos os bairros?
Inviabilidade financeira e operacional, simplesmente isso. Por mais que pareça uma solução, ter mais linhas de metrô atualmente não resolveria toda a questão da mobilidade pois a demanda pelo serviço aumentou e concentrar isso cada vez mais no centro é um problema. O crescimento populacional da cidade não seguiu de forma organizada e com isso se tornou quase que impossível ter o transporte sobre trilhos em todos os bairros. Como já dissemos, não existe apenas o trem como opção de transporte rápido, existe o BRT que se encaixa em muitos quesitos urbanos em que o metrô já tem problemas para se adequar. Além disso, quando falamos em uma cidade organizada e sustentável estamos falando de uma cidade com diversos pólos comerciais espalhados pela cidade e não concentrado no centro como é em São Paulo. Sendo assim, mais linhas de metrô seguindo dos bairros ao centro não é uma solução lógica em tempos atuais, mesmo parecendo.

Trem da frota A do Metrô Paulista na Estação Luz.
Autor: Gustavo Bonfate.
  • O que temos atualmente sobre trilhos?
No total são 258,4 km de linhas férreas da CPTM divididas em seis linhas, 78,4 km de vias do Metrô divididas em seis linhas sendo uma operada pela iniciativa privada, a ViaQuatro. Em São Paulo, atualmente há 138 km de corredores de ônibus e 500 km de faixas exclusivas simples, enquanto que na região metropolitana 57,3 km de corredores de ônibus que atendem à cinco municípios da região metropolitana. Há diversos projetos para ampliar a rede de metrô, trem e corredores de ônibus, alguns estão em obras, mas a maioria se quer saiu dos projetos, o que dificulta a mobilidade urbana e as viagens desde as cidades até a capital. Uma curiosidade é que São Paulo possui uma linha de ônibus que circula por bairros no extremo sul da cidade que utilizam a balsa da Ilha do Bororé para conectar a ilha até o Terminal Grajaú, também na zona sul. O blog visitou a Ilha em 2016, veja a matéria aqui (Roteiros Interessantes em São Paulo - Ilha do Bororé). 

Mapa do Transporte Metropolitano.
Fonte: Metrô SP.
  •  O que o passageiro ou cidadão pode fazer para melhorar o transporte?
Cobrar autoridades, se informar melhor sobre o assunto, respeitar normas e regras das empresas de transporte, participar mais de debates e discussões, e acima de tudo, entender que um transporte público não se faz sozinho, todos tem um papel importante para isso. Não adianta ir à sua rede social e reclamar da CPTM, do Metrô ou da SPTrans, até porque palavras da boca pra fora são esquecidas no dia seguinte. Cobrar melhorias de quem tem o papel de servir o cidadão de forma justa e transparente é quase que uma obrigação do próprio cidadão, até porque é ele quem usa todo o dia o transporte e então é só ele que deve cobrar melhorias.
O papel do governador e de seus secretários é melhorar o estado e as cidades, e o papel do cidadão é conferir e cobrar eles, não é só votar, não se esqueça disso.