quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Avaliando São Paulo: Terminais de ônibus (Área 2 Norte)


 
Terminal Cachoeirinha, acesso Sul.

Denominada como Área 2 Norte (Azul escuro) pela SPTrans, essa área de operação de São Paulo é uma das mais movimentadas em número de linhas de ônibus e passageiros, mas também uma das que menos possui terminais de ônibus e corredores. Seja os terminais anexos a Linha 1 Azul, única linha de metrô da região, ou os dois únicos terminais administrados pela SPTrans, é uma área de atuação muito necessitada de mais terminais e atenções da prefeitura. Vamos avaliar os poucos terminais e entender se atendem bem a região. 
Observação: Compreendemos que o terminal Santana do Metrô é muito importante para a região, mas ele será abordado em outra matéria própria para os terminais do Metrô, aguardem.

Terminal Casa Verde.

Terminal Casa Verde - Inaugurado em 1986 como um terminal de transferência entre linhas locais e linhas de trólebus estruturais, este terminal é um dos menores da cidade com três plataformas estreitas e curtas. Embora o tamanho seja bem menor se comparado ao terminal do Cachoeirinha, o terminal da Casa Verde atende principalmente aos bairros do Casa Verde e Limão com suas oito linhas, sendo xx noturnas. Veremos se o tamanho do terminal o prejudica no atendimento a população.
Acessibilidade - O único acesso para pedestres, na Rua Baia Grande, é feito por calçadas simples e sem rampas. No interior do terminal, as faixas de travessia entre as plataformas são elevadas no nível das plataformas para melhor acessibilidade de pessoas com mobilidade reduzida ou cadeirantes.
Iluminação - Bem iluminada durante o dia, porém a iluminação noturna ainda precisa de melhorias.
Sanitários - Disponíveis para os passageiros no prédio principal do terminal. Simples, mas razoavelmente bem cuidado.
Conservação e limpeza - Mesmo bem antigo, a estrutura ainda aparenta esta conservada e bem cuidada. Com algumas reformas feitas recentemente, o terminal estava bem limpo no dia da visita.
Informações úteis - Totens com informações individuais sobre as linhas, painéis com informações sobre o sistema e anúncios, mas faltaram mais informações sobre linhas e mapa dos arredores.
Bilheteria - Possui uma pequena e simples bilheteria que aparenta estar sempre tranquila com poucos guichês.
Terminal Casa Verde, plataformas.

Maquinas de auto atendimento - Duas maquinas para recarga dos bilhetes além dos pontos de recarga instalados no terminal.
Outros serviços: Caixas eletrônicos 24 horas.
Resumo: Um pequeno terminal localizado no meio do bairro e as margens da Avenida Engenheiro Caetano Álvares, a estrutura limitada atende de forma razoável a região da Casa Verde. Com poucos terminais implantados ao longo da região norte de São Paulo, faz dessa uma região mal atendida por terminais para estruturar o sistema de forma mais organizada e prática, gerando problemas estruturais como o que ocorre no Terminal Santana do Metrô.

Terminal Cachoeirinha, acesso Sul.

Terminal Vila Nova Cachoeirinha - Inaugurado em 1991 para atender ao também recém inaugurado Corredor de Ônibus Inajar de Souza - Rio Branco - Centro, o terminal concentra boa parte das linhas locais da região da Brasilândia e Cachoeirinha, alem de linhas em direção às estações de metrô e terminais centrais de ônibus. Levando em conta a divisão operacional feita pela SPTrans, este terminal pertence a Área 2 Norte (azul escuro), mas muitas das linhas estruturais e locais pertencem a Área 1 Noroeste (verde claro). Polêmicas a parte, este terminal é muito importante para sua região de atendimento, vejamos se sua infraestrutura atende bem aos mais de 50 mil passageiros por dia.
Acessibilidade - Desde o acesso através da Avenida Itaberaba, onde está localizada a bilheteria, até outro acesso na extremidade do terminal é acessível para todos os passageiros. Ao longo das plataformas e acessos, há rota tátil, faixas de travessia para pedestres rebaixadas, sistemas sonoros de avisos, rampas para acessar as plataformas e sinalização especial. Por fim, é um terminal muito bem acessível para todos, embora precise melhor em alguns quesitos como sinalização.
Iluminação - Durante o dia é muito bem iluminado com luz natural, e nos períodos noturnos o terminal apresenta uma boa iluminação, embora nos túneis de acesso as plataformas estejam visivelmente mal iluminadas.
Sanitários - Possui em grande número, disponível para passageiros e para os funcionários. Mas a conservação dos banheiros públicos deixou a desejar, além do pouco espaço no interior deles.
Conservação e limpeza - Ao longo dos anos vem recebendo reformas e melhorias, as plataformas possuem um bom espaço de espera e painéis com informações, alguns desatualizados. As calçadas das plataformas estavam razoavelmente conservadas e o asfalto dos ônibus em bom estado. A limpeza parece ser feita com regularidade, uma vez que no dia da visita não encontramos lixeiras cheias e sujeiras nas plataformas.
Informações úteis - Painéis digitais individuais para cada linha informando as próximas partidas, alguns com problemas, placas com informações sobre as linhas do terminal que poderia ser melhor, e placas para localização dos arredores.

Terminal Cachoeirinha, acesso Norte e plataformas.

Bilheteria - Mesmo problema encontrado no Terminal Pirituba; por ser um grande terminal e quase único na região, sofre com lotação das bilheterias em quase todos os horários e dias, embora possua muitos guichês e máquinas de auto atendimento.
Máquinas de auto atendimento - Quatro no total, neste dia apenas aceitando cartão de débito como pagamento, mas todas funcionando e vazias, além de pontos de recarga espalhados pelo terminal.
Outros serviços: Caixas eletrônicos 24 horas e quiosques de lanchonetes.
Resumo: Um terminal bem antigo, com seus quase 27 anos, se tornou um imenso pólo de conexões bairro – centro. Sua estrutura atende de forma simples e razoável os passageiros e operadores do sistema, mas sempre podem melhorar o terminal para garantir mais conforto e tranquilidade nas transferências.
Observações: Ao lado do terminal Vila Nova Cachoeirinha, existe uma estrutura instalada para as linhas 2013-10 (Jardim Pery Alto – Cachoeirinha) e 209P-10 (Cachoeirinha – Terminal Pinheiros). A Estação de Transferência foi instalada em meados de 2013 para facilitar as integrações das recém criadas linhas, uma vez que o terminal já existente não comporta mais linhas.



Texto e revisão: Victor Santos e Gustavo Bonfate.

Fotos: Gustavo Bonfate.
Fontes: SPTrans e SPUrbanuss.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Estrada de Ferro Vitória à Minas: Trem interestadual no Brasil

Foto retirada da internet, créditos ao autor.
Muitos de nossos parentes que viveram nos áureos tempos das ferrovias contam histórias de viagens que nos encantam ao mesmo tempo que nos entristece pelo resultado de anos de negligência governamental. Os paulistas mais jovens sabem, através de histórias e pesquisas, que era possível ir à Santos ou Sorocaba através das ferrovias com companhias que nem existem mais, aliás as próprias ferrovias quase não existem mais em grande parte dos casos. Mas muitos paulistas não imaginam que ainda é possível viajar de trem regional regularmente e cruzar boa parte de dois grandes estados.
Trem estacionado na plataforma baixa.
Estamos falando da Estrada de Ferro Vitória à Minas, que opera regularmente o trecho entre Cariacica, região metropolitana de Vitória, à Belo Horizonte, cruzando boa parte do leste mineiro. Nós do Metrópole SP visitamos a ferrovia durante nossa viagem para Belo Horizonte (logo você poderá conferir essa visita aqui mesmo no blog), e hoje vamos contar nossas impressões dessa ferrovia tão importante para os passageiros, estudiosos do setor e da economia das cidades. 
Curta história: A ferrovia que ligaria o Porto de Vitória à região do Vale do Rio Doce foi inaugurada em 1904 para transportar a produção de café desde a região até o porto. Durante os anos de 1940 passou por uma retificação para melhorar seu percurso acidentado na região de Vitória. Passou a ser também administrado pela Companhia Vale do Rio Doce (hoje somente Vale S.A.) em 1942, oferecendo o serviço pleno de passageiros em 1994. Mas somente em 2002, após a assumir o Ramal de Nova Era da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil, a empresa passou a opera o trecho entre as duas capitais: Belo Horizonte e Vitória. É uma ferrovia com um movimento frenético de trens cargueiros que cruzam os estados mineiro e capixaba, operando com locomotivas de bitola estreita (1,000 mm) uma vez que a ferrovia foi concebida para o transporte de cargas.  
Estação de Belo Horizonte.
Eram quase 7 horas da manhã quando chegamos a Estação de Belo Horizonte, que na verdade é um galpão que foi adaptado para receber o trem de longo percurso uma vez que a estação de fato hoje abriga o Museu de Artes e Ofícios (parada obrigatória para quem gosta de museus bem ricos em cultura). A real estação de Belo Horizonte foi inaugurada em 1895, reconstruída em 1922 para o prédio atual. A estação que abriga o trem é relativamente boa, porém descoberta em boa parte, até porque o trem não é tão pequeno.
Plataforma parcialmente coberta.
Nosso destino naquela fria e brilhante manhã era a Estação de Pedro Nolasco, na cidade de Cariacica, Grande Vitória - ES. Compramos as passagens através do site da Vale do Rio Doce, empresa que administra os trens de passageiros dessa ferrovia desde 1942 e possui partidas diárias às 7h00 de Vitória (Cariacica) para Belo Horizonte, Minas Gerais, e no sentido Vitória, a partida da capital mineira às 7h30. Note que a compra te possibilita escolher a poltrona e classe que deseja viajar, Econômica ou Executiva, lembre-se disso poisserá importante mais para frente da história. 
Havia muitos passageiros para embarcar no trem, mas o embarque foi bem organizado com funcionários nos portões de embarque preferencial e comum para informar o número do carro de cada passageiro. 
Existia uma organização planejada, mas como brasileiro não gosta de ler e entender informações, sendo assim havia muitos passageiros que embarcavam em carros diferentes daqueles que seriam os seus.
Nesse dia, a composição estaria com seus 17 carros de passageiros, sendo 11 na classe Econômica, 5 da classe Executiva, um carro especial, carros lanchonete e restaurante, além da locomotiva que tracionaria a composição com uma unidade de baterias. Por fim, uma composição imensa, mas não era a maior, pois era uma época de baixo movimento (início de novembro). Segundo os passageiros e funcionários, havia épocas de alta demanda que aumentava o número de carros para o transporte. 
Pelo grande número de passageiros que ainda iriam embarcar, imaginamos que nossa partida agendada para às 7h30 seria atrasada, então nos acomodamos em nossas poltronas do carro 08 da Econômica. Logo veio a surpresa: pontualmente às 7 horas e 30 minutos o trem puxou os 21 carros carregados da forma mais suave que já testemunhamos. Enfim estávamos em movimento rumo a capital capixaba em uma viagem de 12 horas de duração e 29 paradas até a capital do Espirito Santo. 
Carro Econômico: simples, mas confortável.
Por ainda estarmos em um trecho de tráfego intenso de trens cargueiros da FCA (Ferrovia Centro-Atlântica, concessionária do trecho e empresa do Grupo Vale), precisamos permanecer em baixa velocidade até deixarmos a região metropolitana de Belo Horizonte, onde chegamos a velocidade comercial máxima da viagem: 70 km/h. Os carros de passageiros possuem um isolamento acústico impecável! É quase impossível sentir os solavancos e sons dos trilhos dentro dos carros, comprados em 2014 pela Vale para substituir os antigos carros de passageiros. 
Painel informativo disponível em todos os carros.
Esses novos carros, oriundos da Romênia, possuem todo os itens mais modernos disponíveis nas ferrovias brasileiras: Ar condicionado, carros com janelas lacradas, isolamento muito bem feito, painéis com informações para os passageiros sobre a viagenm e avisos, locais para armazenar as bagagens de mão ou malas, portas de passagem entre os carros com sensor de presença e botões para acionamento, banheiros femininos e masculinos bem localizados, além de televisões para entretenimento e avisos. Para uma viagem longa que teríamos, tudo isso veio para proporcionar melhor conforto aos diversos passageiros diários, aliás é muito difícil haver um dia que o trem esteja vazio dependendo da temporada. 
Porta de acesso dos carros.
Como foi avisado logo na saída de "BH", o almoço começaria a ser vendido a partir das 11h00 e quem gostaria de reservar o seu almoço e pagar para garantir mais conforto já poderia faze-lo com um comissário que passava com um carrinho cheio de doces, salgados e bebidas à venda. Reservamos o nosso almoço e preferimos fazer nossa refeição em nossos próprios assentos, possuem mesas bem espaçosas como a dos aviões, para evitar o tumulto no carro restaurante. O pagamento do almoço e demais refeições é feita exclusivamente com dinheiro, uma vez que dependendo do trecho não há sinal para maquinas de cartões. Sugerimos levar o dinheiro trocado para evitar desconfortos. 
O prato padrão: frango assado acompanhado de arroz, feijão e macarrão, além de uma pequena porção de legumes. A viagem passou rápida até o almoço, mesmo com as paradas de dois ou quatro minutos nas estações. Sim, esse é o tempo de parada nas pequenas estações para embarque e desembarque, o que nos impede de descer para ver a estação. A orientação para os passageiros que fossem embarcar era para que já estivessem prontos na estação, e para os que fossem desembarcar, ficassem com malas prontas próximos das portas indicadas. Uma pena que os próprios passageiros não colaborem com essa organização.
Não é algo muito sofisticado, mas muito saboroso pelo preço.
Por volta das 11h30, almoçamos em nossa "marmitex", na marmita mesmo, feita de isopor e talheres de plástico que mais quebravam do que cortavam a comida. Mas lembramos que para cortar custos com utensílios mais "sofisticados", a empresa opta por pratos e talheres de plásticos, mesmo se o passageiro preferir por almoçar no carro restaurante. Outro fator que reforça a escolha da companhia em disponibilizar utensílios de plástico é para evitar furtos e quebras dos objetos, além da segurança dos próprios passageiros.
Por fim terminamos nosso almoço, e nos acomodamos para mais oito horas de viagem. A Vale disponibiliza um sistema de entretenimento bem diversificado a bordo dos carros, inclusive via Wi-fi com uma programação de filmes e shows direto no celular ou notebook, um grande diferencial. Muitos passageiros optaram por livros ou revistas trazidas por eles mesmos, mas a maioria também se acomodaram e repousaram para a longa viagem. Aproveitamos o pós tumulto do almoço para caminhar pela composição para conhecer os carros especiais, executiva, restaurante e lanchonete, todos interligados e bem isolados através de portas automáticas.
Portas entre os carros para acesso com sensor de presença.
Como estávamos no carro oito, atravessamos outros sete carros para alcançar o carro especial, reservado apenas para cadeirantes e acompanhantes. Esse carro possui itens especiais para acomodar o cadeirante da melhor forma possível: elevador para o acesso do cadeirante, pontos de fixação da cadeira, poltronas para o acompanhante e monitores de vídeo. O toalete desse carro também é projetado para garantir o conforto total do passageiro, ou seja, acessibilidade total!


Poltronas do carro especial que possui também um elevador de acesso.

Elevador de acesso ao carro especial.
O carro Executivo possui uma boa diferença do carro Econômico, a começar pelas poltronas com descanso para pernas e ergonômicas. No caso dos econômicos, é apenas a poltrona ergonômica com acionamento mecânico. Também possui som, iluminação e tomadas individuais em cada fileira, diferente da classe econômica que é preciso compartilhar as tomadas e monitores. Mas em si os carros possuem as mesmas características, apesar do corredor ser mais amplo nos da executiva devido a uma fileira individual do lado direito (semelhante ao usado nos carros Leito de ônibus, foto abaixo).
Carro Executivo: Poucas diferenças entre ele e o econômico.
O diferencial está nos carros lanchonete e restaurante, com mesas bem amplas, música ambiente clássica, serviço de mesa, balcão de lanches e um atendimento diferencial. Em alguns momentos não parecia que estávamos em um trem regional tamanho era o conforto e isolamento acústico do trem. No cardápio contém salgados, doces, bebidas não alcoólicas por motivos óbvios, além da refeição servida para os passageiros. Nesses carros está localizado também o local de descanso para a tripulação, estoque e cozinha. O serviço de bordo nos carros de passageiros e restaurante é interrupto com exceção de 40 minutos de intervalo, sendo 20 minutos antes de chegar em Governador Valadares, e 20 após a saída de lá para troca de equipamentos. Também se encerra cerca de 20 minutos antes de chegar na estação final para garantir segurança e rapidez no desembarque. 
Carro restaurante.
Voltamos para nossos assentos para seguir a viagem sem atrapalhar o movimento frenético dos amplos corredores dos carros. A paisagem que a viagem proporciona também é outro grande diferencial dessa ferrovia: você vê o contraste da natureza brasileira na transição da fauna e flora da mata atlântica para o cerrado em câmera lenta. A cada quilômetro que andávamos era uma sensação nova, cidades e vilarejos que dependem dessa ferrovia para ter acesso as grandes cidades fazem jus a importância de uma ferrovia atendendo um estado. Essa ferrovia foi concebida para transportar a produção de café dos arredores do Rio Doce (R.I.P.) no início dos anos 1900, mas depois acabou também focando no transporte de minério e outros produtos do Vale do Rio Doce. Cruzamos diversas vezes o Rio Doce, atravessamos serras e a cada curta parada que fazíamos era possível ver o quanto essa ferrovia é importante para os moradores dessa região que usam os trens como forma mais barata e viável de se locomover entre as cidades. Chegamos em Governador Valadares por volta das 14h00, a parada aqui foi mais longa: cerca de 8 minutos que se tornaram 10 pela falta de organização dos próprios passageiros. Uma dupla de amigas que embarcaram em nosso carro foi direto para o nosso assento, uma dizia que aqueles era o assento que teriam reservado. A outra disse que era para ficarmos tranquilos que elas iriam procurar outro lugar. Resultado: aquele nem era o carro delas...por fim partimos de Valadares, onde cruzamos com o trem que estava subindo para Belo Horizonte nesta região. O restante da viagem seria tranquilo se não fosse pelo excesso de animação das crianças no carro. Pulavam de um banco para outro, sujavam os bancos com doces, abriam e fechavam as portas de passagem entre os carros, enfim, crianças...

O Rio Doce, nosso "acompanhante" nessa viagem.

O cerrado já aparecendo próximo da divisa.

Quase 10 horas de viagem depois da partida da capital mineira e estávamos cruzando a divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo, faltava pouco agora para a viagem gigantesca acabar. No estado capixaba haviam apenas oito estações que nos separavam do terminal, e como a viagem foi muito tranquila em questão de tráfego de trens, o horário de chegada seria comprido. Houve muita chuva já na chegada do estado, embora também chovesse bastante em Minas Gerais, não atrapalhou em nada a viagem, apenas acrescentou mais beleza as paisagens. O tráfego de trens cargueiros nesse trecho é especialmente grande, as vezes nos obrigando a diminuir de velocidade ou até parar por alguns instantes, mas em outros trechos a prioridade era nossa. 
Mapa adesivado nos carros.
Já anoitecia quando estávamos chegando na região de Colatina e Cariacica, aos poucos era sentido o cansaço dessa viagem longa, mas ainda sim posso dizer que valeu a pena cada segundo. Faltava ainda cerca de 40 minutos para o término e alguns passageiros já faziam filas próximos das portas, coisa que se repete muito em vôos e viagens de ônibus rodoviários. Talvez o brasileiro sinta medo de não conseguir sair a tempo para correr para um compromisso que não existe... Muitos já estavam com suas malas em punho, como se precisassem sair correndo do trem que ainda estava à quilômetros do terminal. 
A tão famosa "pressa brasileira".

Por fim, após 12h15 e 664 km de viagem, chegamos a Estação de Pedro Nolasco, cidade de Cariacica, região metropolitana de Vitória. Ao contrário do embarque em Belo Horizonte que foi muito organizado, o desembarque na estação final foi demorado, lento e desorganizado. Haviam poucos funcionários para o auxílio, os passageiros se amontoavam nas portas, a plataforma estava congestionada e parecia mais uma estação de trens urbanos do que uma estação de trens regionais. Depois de 20 minutos parados no corredor do carro, enfim saímos do trem e seguimos para fora da estação, que do mais absoluto nada ficou vazia. O trem já estava sendo preparado para a viagem de volta para Minas Gerais no dia seguinte: era abastecido com produtos e começava a ser limpo. A estação não fica tão bem localizada, sendo necessário um bom planejamento do passageiro para seguir o seu destino, seja de carro ou com o transporte coletivo. Mas em si a estação é bem confortável com bilheterias, toaletes e iluminação (bem fraca aliás). 
Enfim, chegamos à Vitória.
A experiência dessa viagem ficará gravada para sempre em nossas memórias, cada cena que vimos pela janela dos carros, cada momento parece se eternizar para quem jamais havia cruzado um estado de trem. Para quem quiser ter boas experiências em ferrovias brasileiras, recomendamos essa viagem sensacional. Se para a maioria dos passageiros dessa ferrovia as viagens sejam longas e tediosas, para mim que nasceu na década de 1990 e não pôde ver as ferrovias paulistas de perto, é uma viagem no tempo e na cultura ferrovialista. Há pontos para melhorar? Sim, sempre podemos melhorar. Mas essa ferrovia serve bem aos seus frequentes usuários. Viva as ferrovias! 

Vista da ferrovia
Informações sobre a viagem
Reserva: feita no próprio site da EFVM - Vale.
Preço: Classe Econômica/Cadeirante - R$73,00*. Classe Executiva - R$105,00*
Duração: 12h00 (previsão).
Extensão: 664 km (capital à capital).
Composição: 11 carros econômicos, 5 carros executivos, um carro especial, um carro restaurante, um carro lanchonete, um carro baterias, um carro administração, além da locomotiva tracionando.
Estações: 30 estações de embarque e desembarque.
Refeiçoes: Vendidas à parte, cardápio com preços e opções no site da Vale.
Serviços: Toalete feminino, masculino e acessível, restaurante, lanchonete, tomadas 110v e 220v, monitores de vídeo, ar condicionado, isolamento acústico, painéis com informações e bagageiro para malas pequenas, médias e grandes.
Entretenimento: Wi-fi (depende do trecho) e mídia digital com filmes e shows.
Fundação da ferrovia: 1904, transporte de passageiros regular começou em 1994.
Horários: Partidas diárias às 7h00 de Vitória para Belo Horizonte, e às 7h30 de Belo Horizonte para Cariacica/Vitória
Texto e revisão: Victor Santos e Gustavo Bonfate.
Fotos: Gustavo Bonfate e Victor Santos.
Visita realizada em Novembro de 2017.
*Preço de viagem completa (Belo Horizonte - Cariacica/Vitória e vice-versa), para conferir preços de outros trecho, consulte o site da EFVM - Vale.