quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Avaliando SP: Terminais de ônibus (Área 5 - Sudeste)

Englobando parte da Zona Leste de São Paulo e uma parcela da Zona Sul, o lote da Área 5 - Sudeste da SPTrans é hoje uma grande área operacional, relativamente tranquila e bem servida de sistemas de transportes. Seja por trem com a linha 10 Turquesa da CPTM, ou pelas linhas do Metrô com as linhas 1 Azul, 2 Verde e 15 Prata. Contudo, quando se trata da infraestrutura municipal, a área possui apenas três terminais municipais, sendo um em obras desde 2013. Vamos conhecer hoje os terminais municipais da Área 5 Verde Escuro. Observação: já explicamos o porquê o terminal São Mateus não aparecerá nesta reportagem.
Terminal Sacomã. No piso inferior as plataformas das linhas comuns.
No piso superior, as plataformas do Expresso Tiradentes.
Foto: Gustavo Bonfate.
Terminal Sacomã - Entregue para operação em 8 de março de 2007, o terminal faz parte do projeto Expresso Tiradentes, antigo Fura-Fila, e tornou-se um imenso ponto de transbordo entre as linhas locais, linhas intermunicipais da EMTU-SP, para as linhas troncais e para o corredor do Expresso Tiradentes. Ficou abandonado por anos juntamente com toda a estrutura do antigo Fura-Fila ao longo das avenidas do Estado e Juntas Provisórias. Localizado na rua Bom Pastor, n°3000, contando com nove plataformas, 33 linhas e uma demanda de cerca de 60 mil passageiros por dia útil (média), o terminal é um grande centro de conexões e destino ou origem de muitos passageiros, uma vez que o distrito também é um grande pólo de atração comercial e residencial. Uma curiosidade é que no terminal há máquinas que realizam a integração tarifária entre os bilhetes BOM (Bilhete Único Metropolitano) e o Bilhete Único municipal de São Paulo. O passageiro pode utilizar os ônibus intermunicipais até o terminal, realizar essa transferência tarifária no próprio terminal, e depois seguir viagem pelas linhas municipais, e vice-versa. Vejamos se atende bem a grande demanda dos passageiros.
Acessibilidade - Um terminal relativamente novo que conta com todos os itens de acessibilidade como escadas rolantes, escadas fixas com corrimão com sinalização especial, rota tátil em todo o terminal, elevadores, rampas nos acessos, avisos sonoros e visuais, além da faixa de travessia dos pedestres com guia rebaixada. Realmente atende bem a este item.
Iluminação - Boa iluminação diurna com entrada para luz natural, e a iluminação noturna é muito boa.
Sanitários - Relativamente conservados e bem localizados, atrás da administração do terminal, no mezanino. Será que é muito complicado conservar um banheiro?
Conservação e limpeza - Embora os acessos estivessem sujos no dia da visita, o terminal em si é relativamente bem cuidado e conservado, mesmo após 11 anos em operação.
Informações úteis - Todas bem instaladas nas plataformas e mezanino, poderiam ser melhor, mas estão boas. Totens digitais para a maioria das linhas, sempre em bom funcionamento.
Bilheteria - Sempre movimentada, mas também sempre com apenas duas ou três atendentes dos diversos guichês existentes. Havia um quiosque do cartão BOM de frente com a bilheteria, mas foi retirado há pouco tempo. Uma dica? Use as máquinas se estiver com pressa.
Máquinas de autoatendimento - Localizadas de frente com a bilheteria, possui um bom número de máquinas, embora poderiam ser em maior quantidade e mais espalhadas. Há pontos de recarga e consulta próximos também.
Outros serviços - Quiosques de lanchonetes e caixas eletrônicos 24 horas (em grande quantidade).
Resumo - Um bom terminal, conservado, de fácil acesso, e excelente para realizar transferências entre linhas e para o Metrô através de uma passarela de acesso a estação Sacomã da linha 2 Verde. Não me recordo se o terminal já passou por reformas pesadas nos últimos anos, mas a estrutura e todo o restante realmente agradam funcionários e passageiros.
Vista geral do terminal Sapopemba.
Foto: Gustavo Bonfate.
Terminal Sapopemba/Teotônio Vilela - Em 11 de outubro de 2006, cinco meses antes do terminal Sacomã, era inaugurado o terminal Sapopemba para dar auxílio as conexões das linhas locais para as linhas troncais e ao futuro Expresso Tiradentes. Localizado nos cruzamentos da avenida Sapopemba e Arquiteto Vila Nova Artigas, o terminal recebeu uma boa parte de linhas que originalmente seguiam direto para o centro e por isso sempre foi esperado uma grande demanda. Mesmo com o cancelamento da extensão do Expresso Tiradentes até São Mateus e Cidade Tiradentes, o terminal atende ao extenso e populoso distrito da zona leste paulistana. Espera-se que ainda em 2018, talvez, haja a integração física entre o terminal e a futura estação Sapopemba da linha 15 Prata do Metrô (monotrilho). Com cinco plataformas, 13 linhas (diurnas e noturnas), e uma demanda de cerca de 10 mil passageiros, será que ainda é um bom terminal mesmo após quase 12 anos?
Acessibilidade - Desde o único e principal acesso, o passageiro conta com rampas, escadas fixas bem sinalizadas, faixas de travessia com guia rebaixada e boa sinalização visual e sonora.
Iluminação - Muito boa nos dois períodos do dia, sobretudo nos períodos noturnos.
Sanitários - Relativamente bem conservados e limpos, nada de muitos problemas.
Conservação e limpeza - Muito bem conservado na estrutura e plataformas, além de uma boa limpeza. Contudo, estava um pouco sujo de poeira devido das obras para o futuro acesso à estação do monotrilho.
Informações úteis - Todas as placas estavam atualizadas com as informações sobre linhas e notícias no geral do sistema. Há totens digitais individuais para cada linha, todos em boas condições.
Bilheteria - Localizada no acesso do terminal, havia um bom número de guichês, mas poucos funcionários.
Máquinas de autoatendimento - Somente duas para todo o terminal, todas próximas do acesso e aceitando dinheiro em espécie ou cartão de débito. Também há pontos de consulta de saldo e recarga em alguns locais.
Outros serviços - Quiosque de lanchonete e caixas eletrônicos 24 horas.
Resumo - Outro importante terminal para o imenso distrito, embora pareça subutilizado se comparado ao tamanho do bairro, aparentemente atende muito bem aos usuários do sistema e aos funcionários. Conservado, bem limpo e tranquilo no dia da visita, se espera que o movimento aumente ainda mais com a inauguração da nova estação que terá um dos acessos para o terminal.
Terminal Sul da Vila Prudente. Apenas uma linha opera no terminal.
Foto: Autoria própria (Victor Santos).
Terminal Vila Prudente - Em obras desde 2013 para a construção de um novo complexo, o terminal do distrito da Vila Prudente foi inaugurado originalmente em abril de 1980 para atender ao também recém inaugurado corredor Paes de Barros (veja mais sobre o corredor aqui). A antiga estrutura, hoje completamente demolida, era acanhada e pequena, mas atendia muito bem ao baixo número de passageiros na época. Foi fechado em 2013 para a construção de um novo, denominado hoje de "terminal Norte", que nada tem a ver com a antiga estrutura e abriga hoje apenas a linha 3160-10 Terminal Vila Prudente - Terminal Parque Dom Pedro II (veja mais sobre dela aqui). Por fim, passados cinco anos, as obras ainda não terminaram, sendo que apenas o terminal Norte e o terminal Sul, inaugurado recentemente com apenas um linha, estão operando, enquanto o terminal Central ainda não tem previsão de inauguração. Vamos tentar avaliar neste caso o que já está em operação e entregue aos passageiros, ou pelo menos tentar, afinal é difícil avaliar algo incompleto.
Acessibilidade - Tanto o terminal Sul quanto o terminal Norte possuem rota tátil, mas somente o terminal Sul possui um acesso a passarela que interliga os dois lados da avenida Professor Luís Ignácio de Anhaia Mello e a estação Vila Prudente. O terminal Norte possui apenas uma rota tátil que liga o terminal à uma faixa de travessia que possibilita o passageiro a atravessar uma movimentada rua para enfim acessar a passarela. Ponto bem negativo a estrutura que não possui se quer avisos sonoros ou placas mais visíveis.
Iluminação - Relativamente boa durante os dias, mas bem ruim durante às noites.
Sanitários - Não possui em nenhum dos dois terminais entregues, nem para os passageiros e muito menos para os funcionários das empresas de ônibus.
Conservação e limpeza - Embora na visita estava relativamente limpo, quando foi entregue o terminal Norte, acabou virando um "abrigo" aos moradores de rua por não possuir nenhum controle de acesso ou funcionário cuidado da estrutura, e sempre era possível ver sujeira no terminal. Embora seja nova e não possuir grandes problemas, em dias de chuva já se percebeu os problemas de projeto em ambos os terminais.
Informações úteis - Nada além de placas indicativas para os acessos ao metrô e aos demais terminais. Para as linhas, apenas um totem estático com informações bem básicas (dias de operação e horários).
Bilheteria - Somente a bilheteria do Metrô, mas somente para compra de bilhetes para o Metrô mesmo.
Máquinas de autoatendimento - Apenas no mezanino da estação Vila Prudente da linha 15 Prata, e no acesso da estação Vila Prudente da linha 2 Verde. Além das máquinas, também pontos de consulta e recarga em ambas as estações. Nos terminais mesmo, nada. 
Outros serviços - Não possui.
Resumo - O que parece aos passageiros é que o projeto do novo completo do terminal Vila Prudente não foi pensando em integrar todas as linhas, atuais e futuras, mas sim apenas construir locais para abrigar as linhas. Mesmo que não tenha sido inaugurado por completo, faltou pensar mais no conforto dos passageiros e funcionários, sobretudo para os que usam o terminal Norte. Os moradores do distrito aguardam a entrega do terminal a no mínimo cinco anos, mas talvez já tenham percebido os erros no projeto antes mesmo da inauguração.
Em primeiro plano, o terminal Sul. Ao fundo, a estação Vila Prudente
do monotrilho e logo abaixo dela o terminal central.
Foto: Autoria própria (Victor Santos).
Fontes: SPTrans, SPUrbanuss e Plamurb.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Terminal Parque Dom Pedro II: Importante e degradado

O terminal e seus muitos ônibus.
Foto: Victor Santos (autor).
A grande maioria das cidades na região metropolitana de São Paulo implantaram seus terminais centrais ao lado das estações de trem da CPTM para facilitar o deslocamento entre as cidades e a capital, e permitir uma melhor operação das linhas.
Em São Paulo, por ter uma área geográfica muito extensa, existem muitos terminais espalhados pela cidade e muitas vezes não conectados. Um dos principais é o terminal do Parque Dom Pedro II. 
Importante, movimentado e muito conhecido, esse terminal ao mesmo tempo que contribui para abrigar as diversas linhas de ônibus da região, também contribuiu para a degradação do bairro que historicamente era harmonioso e tranquilo. Vamos tentar entender nesse artigo hoje.

História
O Parque Dom Pedro II nos anos 1920.
Fonte: Sampa Histórica (Acervo Museu da Imigração)
Mesmo com o Plano Avenidas do então prefeito Prestes Maia implementado parcialmente entre os anos de 1920 e 1930, o trânsito da cidade seguia crescendo sem que a estrutura viária acompanhasse esse crescimento. O resultado foi que conforme os anos se passaram, o trânsito piorava, e a situação das linhas de ônibus também não eram das mais favoráveis, e por isso grandes congestionamentos eram parte do dia à dia dos paulistanos. Como não se investia muito no transporte coletivo, o resultado não poderia ser outro.
Então em meados de 1967, o então governador do Estado Abreu Sodré contratou o coronel Américo Fontenelle para solucionar o caos no trânsito paulista. Fontenelle, que já havia conseguido muito reconhecimento quando solucionou o caos no trânsito no Rio de Janeiro e de outras capitais naquela época, foi contratado por pouco tempo para estudar o caso e implementar melhorias. 
Menos de três meses foram o suficiente para implementar grandes mudanças no trânsito que seguem até os dias atuais os mesmos padrões. O mais conhecido é a "Operação Bandeirantes", e criação de diversas outras melhorias (para o transporte individual, zero de mobilidade).
Dentre os grandes projetos de reorganização, inclusive de retirar terminais rodoviários do centro da cidade, estava a implantação de quatro terminais de ônibus urbano na cidade, entre eles o Parque Dom Pedro II. 
Imagem aérea da região, possivelmente anos 1930.
Autor desconhecido, fonte: Revista Veneza
Finalmente em 9 de março de 1967, era inaugurado o "terminal" de ônibus Parque Dom Pedro II, localizado no bairro do mesmo nome e no distrito da Sé. Antes de implantar o terminal, no local existia um imenso estacionamento, fazendo com que a construção do terminal não demorasse tanto.
Porém, o bairro, que era uma antiga Várzea do rio Tamanduateí, desde os seus primórdios era muito importante para o lazer e comércio da região, sobretudo pela localização do Mercado Municipal nas proximidades. Aliás, até meados de 1964 existia próximo do local uma estação da extinta Estrada de Ferro da Cantareira, ou simplesmente Tramway da Cantareira, que ligava São Paulo à região mais ao norte do rio Tietê e à Guarulhos (a partir de 1912).
A região sempre foi muito agradável com diversas árvores, praças e um grande parque as margens do rio Tamanduateí, rio que corta o bairro e que na época não era poluído. Por fotos é possível imaginar a extensão do parque que, além de parecer muito lindo, parecia trazer ao bairro um movimento constante de pessoas à procura de lazer. 
O "Parque" Dom Pedro durante as obras dos viadutos
atuais, vista olhando sentido marginal Tietê.
Fonte: Sampa Histórica - Acervo Museu da Cidade
Com a chegada do terminal de ônibus e o aumento da demanda, muitos urbanistas alegaram que o bairro perdeu toda a sua característica após a implantação do terminal de ônibus e a estação de Metrô, que seria construída anos depois.
Voltando ao terminal, inicialmente era uma estrutura simples, com poucas linhas e precária com plataformas sem coberturas, deixando os passageiros à mercê das chuvas. 
A partir de 1969, com as obras do metrô se intensificando na região central, muitas linhas de ônibus que tinham pontos finais nas praças da Sé e Clóvis foram remanejadas para o novo terminal. 
Já no inicio dos anos 1970, as linhas oriundas do ABC Paulista foram realocadas também no terminal, antes as linhas seguiam até a região da República. 
Para receber mais linhas, foi construída uma estrutura muito simples e precária para abrigar mais linhas, com a colocação de cobertura apenas nos pontos.
Passageiros afetados por essa mudança brusca, foram forçados a realizar uma razoável caminhada desde o centro até o terminal, resultando no descontentamento da população em relação as mudanças. 
Vale lembrar que nessa época, a bilhetagem eletrônica ainda nem estava nos sonhos da CMTC, e que o terminal não havia pré embarque para que as pessoas pudessem realizar o transbordo sem a necessidade de uma nova tarifa.
O terminal já em operação nos anos 1980. Note que o
parque perdeu espaço para o concreto.
Fonte: Sampa Histórica - Crédito aos autores.
O principal problema na construção deste terminal é que isso começou a degradar a região de maneira muito rápida, pois com o aumento do tráfego, foi necessário mudanças para que o trânsito fluísse melhor. 
Não demorou muito para que aos poucos fossem construídos viadutos de maior capacidade de tráfego para transpor o rio Tamanduateí, que começou também a ficar espremido entre tantos viadutos e a retificação da avenida do Estado.
Na metade dos anos 1970, já não era mais possível reconhecer o parque que ali existia, os viadutos cobriram o parque quase que inteiro, e com a construção da estação Pedro II no final dos anos 1970, restou pouco do parque que agora se tornou um imenso "emaranhado" de viadutos de um lado para o outro. 
Com o aumento no movimento nas linhas municipais e consequentemente no número de ônibus nos anos 1980, não demorou muito para que mais e mais linhas fossem criadas e alocadas no terminal sem que a estrutura fosse ampliada. A origem das linhas em sua maioria eram das regiões leste e sudeste, mas também possuía linhas de origem da região sul da cidade. Embora fosse extremamente simples e sem nenhuma grande estrutura, atendia a uma boa demanda da cidade, o que o tornou um dos principais pontos de concentração de linhas da cidade. 

Primeira reforma
Nos anos 1990, muitas obras de melhoria na infraestrutura dos transportes de São Paulo como a construção de corredores, ampliação de outros e implantação de novos terminais de ônibus. Uma destas obras foi a reconstrução do terminal Parque Dom Pedro II, que agora receberia uma cobertura maior e novas plataformas.
Em 1996 as obras de melhoria foram iniciadas e concluídas ainda no mesmo ano, após somente 120 dias em obras, em novembro pelo então prefeito Paulo Salim Maluf junto com outras obras como a reconstrução do terminal Bandeira, e a construção dos novos terminais Capelinha e Princesa Isabel. É possível até notar semelhanças entre os terminais, uma vez que foram construídos ou reconstruídos na mesma época. Também nessa época foi criado os "Circulares Centrais", compostos por três linhas de trólebus que ligavam os terminais Bandeira, Parque Dom Pedro II e Princesa Isabel passando por pontos de interesse no centro. As linhas eram: 
2001-10 Terminal Bandeira - Terminal Princesa Isabel;
2002-10 Terminal Parque Dom Pedro II - Terminal Bandeira;
2003-10 Terminal Princesa Isabel - Terminal Parque Dom Pedro.
Atualmente apenas a linha 2002-10 segue operando desde 1998, as demais foram injustamente desativadas ainda nos anos 2000. 
Projeção de como ficaria o terminal após a "modernização".
Fonte: Internet, créditos aos autores.
O terminal passou a contar com sanitários, bilheterias, pagamento de tarifa antes de entrar no terminal e nova sinalização no padrão SPTrans, desde 1995 gestora do sistema municipal, em tons de verde escuro. Mas mesmo com todo o investimento, havia um outro problema que prejudicava a operação neste terminal: o abandono da região. 
A degradação do Parque Dom Pedro que falamos acima gerava muitos problemas sociais e de segurança a quem utilizava o terminal como ponto de transbordo ou destino, mesmo que próximo do terminal exista um dos maiores pólos de comércio da cidade, a rua 25 de Março. O contraste era muito nítido: enquanto os dias a movimentação da região é enorme, após o horário comercial a movimentação se cessava a ponto das ruas ficarem vazias. 
O parque, irreconhecível até então, já não era mais tão frequentado pelas pessoas, que inclusive evitavam passar pela região se não fosse necessário.
Projeção do acesso norte e as plataformas.
Autor: Nelson Kon. Fonte: MMBB Arquitetura

A sensação de insegurança associado aos problemas de excesso de linhas de ônibus no terminal, uma vez que não houve uma racionalização necessária, fez com que o terminal tenha contribuído novamente para a degradação do Parque Dom Pedro II que antes mesmo já quase não existia.
Mesmo assim, o terminal acabou se tornando um grande ponto de transbordo, sobretudo entre as linhas oriundas da região leste para as linhas mais centrais da cidade ou em direção a região sul. Embora boa parte dos passageiros evitem sair do terminal se não for muito necessário. 
Corredor segregado começou a ser construído e depois se tornou um contribuinte para
a degradação e desperdício de dinheiro público.
Autor: Sergio Martire. Fonte: Tramz
Paralelamente, em 1995 era idealizado o projeto do então Fura-Fila, um corredor de ônibus exclusivo para os trólebus que percorreria a avenida do Estado desde o terminal Parque Dom Pedro II até o bairro do Sacomã. Para esse novo modal, foi necessário a construção de um terminal exclusivo ao lado do já existente para dar mais exclusividade ao corredor. 
As obras até foram iniciadas em em meados de 1997, mas após diversos problemas de gestão e a toda nova administração pública mudava o conceito do projeto, acabou por deixar a obra abandonada por anos. 
O terminal já em operação após obras.
Autor: Nelson Kon. Fonte: MMBB Arquitetura
Novas reformas e inauguração do terminal Mercado
Em 2007, após dez anos que o projeto do Fura-Fila fora iniciado, era inaugurado o Expresso Tiradentes agora com ônibus à diesel ligando o terminal Sacomã até o terminal Mercado, esse ao lado do terminal Parque Dom Pedro II. Para interligar os terminais, foi construído uma passarela que permite aos passageiros do Expresso Tiradentes acessar o terminal Parque Dom Pedro II de forma ágil e segura, e vice-versa. 
Em azul, no centro da foto, o novo terminal Mercado e sua passarela
amarela que possibilita o acesso ao terminal mais antigo.
Créditos aos autores. Fonte: Estadão.
Surgiu nesse momento um contraste entre os dois terminais: enquanto o terminal Mercado era moderno com sinalização melhorada, iluminação boa e acessibilidade, o terminal Parque Dom Pedro II era acanhado, pouco iluminado e sua sinalização não era das melhores.
Não demorou para que a gestora do sistema iniciasse mais obras de melhorias que na verdade passariam a ser apenas um "tapa buraco" no problema que há décadas já assombra tantos os passageiros quantos os funcionários. 
Por um bom tempo, diversas linhas faziam ponto final do lado de fora do terminal, aumentando a insegurança por parte dos passageiros. Entre 2012 e 2013 houve muitos cancelamentos ou seccionamentos de linhas que tinham com destino ao terminal, reduzindo um pouco o caos diário do terminal, mas ainda com problemas com diversas outras linhas. 
O terminal em 2011, note a vista para o Edifício Banespa ao fundo.
Autor: Alexandre Giesbrecht. Fonte: Blog Pseudopapel 
Em 2015, o terminal passou a concentrar muitas linhas troncais da recém criada "Rede Noturna de Ônibus", contando com muitas linhas noturnas para todas as áreas operacionais da cidade.
No final de 2016, o terminal ganhou uma nova "plataforma" que seria exclusiva da linha 4310-10 Estação de Transferência Itaquera - Terminal Parque Dom Pedro II e do seu atendimento 4310-21 Artur Alvim - Terminal Parque Dom Pedro II. A 4310 foi criada em meados de 2013 para atender à uma demanda em busca de uma opção ao lotado sistema metroviário que serve a região leste. Sendo a maior em demanda do terminal, e uma das maiores da cidade, foi necessário a construção de uma plataforma exclusiva para ela. 
Ônibus estacionado na plataforma "E", onde os
passageiros podem acessa-lá pela plataforma "0".
Foto: Autoria própria. (desculpe a qualidade rs).
A nova plataforma, denominada de plataforma "E", é nada verdade um anexo do terminal, uma vez que os ônibus não precisam mais entrar no terminal para fazer o embarque, assim dando mais fluidez as demais linhas. O problema maior é o desembarque dos passageiros dessa linha, que fica bem antes do terminal em um ponto sem cobertura e mau iluminado.

Dias atuais e projetos futuros
Sendo o principal terminal de ônibus da cidade de São Paulo, o Parque Dom Pedro hoje é considerado por muitos um dos mais caóticos e inseguros da cidade. A região, defasada e abandonada por anos, tem muitos problemas sociais e de segurança, embora seja também uma região repleta de comércio e serviços públicos como secretarias do governo. 
No último dia 17 de agosto, o terminal passou a contar também com o controle de acesso semelhante ao já implantado nos terminal de Cidade Tiradentes e Lapa. Esse controle faz com o que apenas passageiros adentrem no terminal, assim garantindo mais conforto aos mesmos. Para acessar, basta utilizar o Bilhete Único nos bloqueios instalados nos acessos e na passarela do terminal, não gerando custo e nem desconto na integração do passageiro.
Bloqueios instalados na passarela do Expresso Tiradentes.
Foto: autoria própria.
Nos últimos anos tem acontecido muitas mudanças em relação às linhas, alterando o ponto de parada das mesmas, racionalizando um pouco aos operações das linhas, além de melhorar as informações no terminal. Entretanto, não há previsão se a SPTrans vai reformar o terminal novamente nos próximos tempos ou se quer reconstruir outro, uma vez que a demanda cresceu ainda mais nos últimos anos.
Acesso Norte do terminal e seu movimento de passageiros e ambulantes.
Foto: autoria própria.
A prefeitura já lançou diversos concursos para projetos de melhorias e remodelação do bairro e consequentemente do terminal, um deles contemplando a construção de um novo terminal mais próximo da estação Pedro II do metrô. 
O principal objetivo desses projetos é melhorar a urbanização do bairro que há décadas vêm sofrendo pela degradação, mas nenhum destes grandes projetos realmente saíram do papel. O motivo dos cancelamentos dos projetos talvez seja pelo fato do custo ser muito expressivo, além de ser um projeto que demandaria muito tempo para ser implantado. O último orçamento previa algo entorno de bilhões em investimentos. 
Projetos preveem requalificação da área e do rio.
Imagem: Divulgação. Fonte: Estadão.
O principal atrativo próximo do terminal, além do enorme pólo comercial da rua 25 de Março, é o Mercado Municipal, ou "Mercadão" como alguns chamam. Cerca de 400 metros de distância do terminal ao Mercado Municipal que, na maioria das vezes, é tranquilo de se fazer o caminho à pé (durante os dias).
Projeção da área urbanizada e novo terminal de ônibus próximo do metrô.
Foto: Divulgação. Fonte: Estadão.
Com 80 linhas municipais, sendo 22 linhas noturnas, o terminal hoje é o mais movimentado do sistema, com uma demanda de cerca de 78 mil passageiros diários. A maioria das linhas que operam no terminal tem como origem a região leste da cidade, embora tenha também linhas oriundas da região sul e oeste. 

Terminais da SPTrans conectados diretamente à este terminal:
Terminal A. E. Carvalho (208V, 2551, N301N302)
Terminal Aricanduva (390E, N301N302)
Terminal Bandeira (2002)
Terminal Casa Verde (9300, N207 )
Terminal Cidade Tiradentes (4210, 4313)
Terminal Grajaú (N601)
Terminal Guarapiranga (5185)
Terminal João Dias (6403)
Terminal Lapa (N101 e N102)
Terminal Penha (390E)
Terminal Pinheiros (5100, 909T, 930P, N307N801)
Terminal Sacomã (N502, N504 e N508)
Terminal Santo Amaro (5300, 5111, N701N702)
Terminal São Miguel (3301)
Terminal Sapopemba (5142, 5143)
Terminal Vila Carrão (4315N401)
Terminal Vila Prudente (3160)
Obs: Considerando ligações diretas entre terminais, onde a linha atende o interior do terminal.
Terminais Metropolitanos (EMTU-SP) conectados diretamente à este terminal:
Terminal Metropolitano do Jabaquara (N604)
Terminal Metropolitano de São Mateus (2290, 4311, N501, N503)0
Tabela de linhas que partem do terminal

Tabela de linhas que partem do terminal Mercado (Expresso Tiradentes)

Observação: Apenas as linhas que possuem partidas regulares do terminal foram consideradas, para saber sobre atendimentos de cada linha, acessem os aplicativos ou o site da SPTrans.

Ficha técnica
Localização: Avenida do Exterior, s/n. Parque Dom Pedro II, São Paulo - SP.
Inauguração: 9 de Março de 1967 (51 anos) - Fontes indicam que foi inaugurado em 1971
Inauguração da estrutura atual: Novembro de 1996 (21 anos).
Área do terminal: cerca de 24 mil m². 
Horário de funcionamento: 24 horas.
Número de linhas: 72 linhas municipais, sendo 22 linhas noturnas. 
Demanda: 78 mil passageiros (por dia útil).
Gestão: SPTrans (à quem pertence o terminal), Socicam (administra o terminal).
Região administrativa/Lote da SPTrans: Centro/Área 9 - Centro (cor Cinza).
Distância do marco-zero de São Paulo498 metros.

Texto: Victor Santos

Fontes: site Sinal de Trânsito, site Acervo Folha (cotidiano), site Folha de São Paulo, site SPTrans, site Sampa Histórica, blog Plamurb. - Acesse os links clicando nas fontes.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Avaliando SP: Terminais de ônibus (Área 4 Leste)


Uma das regiões em que se concentra maior parte das linhas mais demandadas do transporte coletivo, seja ele sobre pneus ou sobre trilho, é chamada de Área 4 - Leste (cor vermelha) pela SPTrans, a conhecida Zona Leste paulistana. Mas, se por um lado existam diversas linhas de ônibus e duas das linhas mais lotadas do sistema metroferroviário de São Paulo (linha 3 do metrô e linha 11 da CPTM), por outro existem apenas dois terminais de ônibus municipais nesta área operacional. 
Embora o terminal São Mateus concentre boa parte das linhas dos distritos de São Mateus, Sapopemba, São Rafael e Iguatemi, contando até com ligações para o ABC Paulista e futuramente com uma linha de monotrilho para a região da Vila Prudente, ele é administrado pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos, a EMTU-SP. 
Por isso não falaremos dele nesta postagem. Conheçam os dois únicos terminais municipais da Área 4 Leste.
Interior do terminal.
Foto: Gustavo Bonfate.
Terminal Cidade Tiradentes - Entregue à população de um dos distritos mais carentes em serviços públicos no dia 11 de novembro de 1996, o terminal de Cidade Tiradentes tornou-se um grande centro de conexões entre os bairros para o centro da cidade. Recentemente foi implantado o sistema em que o usuário precisa utilizar o bilhete único para acessar o terminal, sem que haja nova cobrança ou desconto no tempo de integração. Embora tenha seis plataformas muito espaçosas, demorou um tempo até que o terminal realmente fosse utilizado como um ponto de transbordo "bairro - centro". Localizado na rua Sarah Kubitscheck, atendendo a uma demanda diária de 34 mil passageiros, com 21 linhas (entre com pontos finais, de passagem e noturnas) e próximo de completar 22 anos em operação, vamos ver se o terminal conta com itens importante para atender a grande demanda do bairro. 
Acessibilidade - Possui rota tátil em quase todo o terminal, guias rebaixadas na faixa de travessia dos pedestres bem sinalizada, a comunicação sonora deixa um pouco a desejar, mas nada tão grave. 
Iluminação - Um terminal muito bem iluminado durante os dias, e sua iluminação à noite também não é das piores. 
Sanitários - A conservação dos banheiros na maioria dos terminais municipais quase sempre é nula ou quase nula, a deste terminal estava mediana em comparação aos outros, existindo tanto para os passageiros quanto para os funcionários.
Conservação e limpeza - Uma estrutura relativamente conservada na maior parte do terminal, não aparentando precisar de uma reforma, e a limpeza no dia da visita era boa nas plataformas e péssima no acesso. 
Informações úteis - Embora possua muitas placas para anexar informações sobre o sistema, boa parte estava vazia e se quer tinha informações sobre as linhas. Existem totens digitais para cada linha, em sua maioria funcionando bem.
Bilheteria - Uma grande quantidade de guichês localizada no único acesso ao terminal. 
Máquinas de autoatendimento - Possui algumas máquinas de recarga de bilhetes que aceitam dinheiro em espécie e cartão de débito, além dos pontos de recarga e consulta de saldo.
Outros serviços - Quiosques de lanchonete e caixa eletrônico 24 horas.
Vista do interior do terminal.
Foto: Gustavo Bonfate.
Resumo: Muito importante para o distrito, o terminal recebe bem os milhares de passageiros diários que aqui realizam o transbordo entre linhas locais e estruturais para outras regiões. Embora precise melhorar em alguns quesitos como acessibilidade e conservação, é um bom e imenso terminal municipal. Uma curiosidade é que até fevereiro de 2015, atendia o terminal a que foi a maior linha noturna da cidade: a 3310-10 Terminal Amaral Gurgel - Cidade Tiradentes (circular), com 103 km de extensão. 

Terminal Vila Carrão - Inaugurado em 22 de dezembro de 1985 pelo então prefeito Mário Covas, o terminal está localizado entre os distritos do Carrão e Vila Formosa. Inicialmente inaugurado para servir de transferência entre as linhas convencionais à diesel para os trólebus, o terminal é relativamente pequeno se comparado aos terminais São Mateus e Cidade Tiradentes, mas é de grande importância para os cerca de 12 mil passageiros diários que por aqui realizam suas transferências. Localizado na altura do número 800 da avenida Dezenove de Janeiro, possui 15 linhas municipais entre linhas com ponto inicial no terminal, de passagem ou noturnas. Com quase 33 anos em operação, será que atende bem à demanda de passageiros?
Acessibilidade - Possui rota tátil em alguns locais do terminal, embora possua uma boa sinalização para deficientes visuais. Possui também duas faixas de pedestres com guias rebaixadas para facilitar a travessia à todos.
Iluminação - Boa iluminação diurna por conta das laterais vazadas do terminal (assim como o A.E. Carvalho), mas a iluminação para os períodos noturnos poderia ser melhorada.
Sanitários - Foi uma surpresa encontrar os sanitários públicos tão bem conservados, embora sejam apertados. 
Conservação e limpeza - Com 30 anos de uso, a estrutura já demonstra precisar de reformas para garantir mais um bom tempo em operação, sobretudo nas estreitas plataformas. A limpeza no dia da visita estava muito boa em comparação aos demais terminais.
Informações úteis - Existem várias placas com informações e notícias sobre o sistema, todas atualizadas mas com erros como na forma em que estavam feitos (papel sulfite simples). Existem totens individuais para cada linha, todos atualizados. 
Bilheteria - Uma pequena bilheteria localizada no acesso lateral do terminal.
Máquinas de autoatendimento - Possui poucas máquinas de recarga de bilhetes, aceitando dinheiro em espécie e cartão de débito, além dos pontos de recarga e consulta de saldo espalhados pelo terminal.
Outros serviços - Quiosques de lanchonete e caixa eletrônico 24 horas.

Resumo: Um bom terminal, importante para esta região e localizado ao lado do Cemitério da Vila Formosa, inclusive com um dos acessos dos ônibus próximo do acesso ao cemitério. Mesmo com poucas linhas locais e estruturais, ainda sim atende bem aos passageiros e funcionários do sistema. Talvez precise de reformas nas plataformas e acessos para melhor garantir segurança e conforto nas transferências. Curiosidade: o terminal foi construído com o propósito de integrar fisicamente e tarifadamente as linhas, ou seja, quem embarcasse no terminal era obrigado a pagar a tarifa antes, assim podendo utilizar os ônibus.
Fachada do terminal metropolitano de São Mateus.
Fonte: Via Trólebus, crédito ao autor.
Observação: Entendemos sim a importância do terminal São Mateus para os milhares de passageiros da zona leste, mas como ele é administrado pela EMTU-SP, deixaremos para falar no Avaliando SP - terminais metropolitanos.
Texto: Victor Santos.