Trem da série 9500 da CPTM estacionado em Aeroporto - Guarulhos. Foto: Gustavo Bonfate. |
Com a recente inauguração da tão aguardada linha 13 Jade da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, a CPTM, muito se discutiu sobre a nova linha da companhia que estava em obras há pelo menos quatro anos. A linha Jade liga o município de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, até a estação de Engenheiro Goulart, zona leste de São Paulo onde há acesso gratuito a linha 12 Safira, Brás à Calmon Viana. A questão que foi muito discutida entre especialistas, entusiastas e passageiros sobre a nova linha é: Por que foi tão difícil fazer uma ligação entre a capital paulista e o seu principal aeroporto internacional? É o que vamos entender nesse artigo.
Desde a grande revolução que aconteceu no setor aéreo após a chegada das companhias aéreas de baixo custo (Low Cost, em inglês), voar passou a ser algo mais comum para a maioria da população de diversos lugares como nas Américas, Europa e Ásia. O conceito de baixo custo surgiu em meados dos anos 1970 e 1980 nos EUA, mas somente nos anos 2000 é que surgiu a primeira companhia aérea seguindo esse conceito no Brasil.
AirTrain JFK (Nova York): sistema inaugurado em 2003 para interligar a estação de metrô Jamaica até os terminais do maior aeroporto de Nova York. Foto: retirado da internet, créditos aos autores. |
Novo terminal aeroportuário de Goiânia. Foi inaugurado em 2016 e até os dias atuais não há um sistema eficiente de transporte. Foto: retirado da internet, créditos aos autores. |
O Brasil, mesmo com o tráfego aéreo aumentando, sempre foi um país rodoviarista e por isso os grandes aeroportos como Guarulhos, Galeão, Brasilia e Confins nunca receberam um transporte mais rápido, eficiente ou mesmo de melhor garantia de conforto. O resultado é o que vemos hoje: congestionamentos quilométricos nos acessos aos terminais, percursos cansativos dos centros urbanos até os aeroportos, passageiros perdendo vôos por conta do tempo gasto no percurso e problemas ocasionados pelos trânsitos.
Quando o Brasil foi anunciado como país sede da Copa Fifa de 2014, muita expectativa foi gerada para saber como o governo iria resolver a questão dos deslocamentos entre os aeroportos e os estádios e cidades. Quatro anos se passaram desde o fim dos jogos e o que aconteceu foi vergonhoso com obras que foram diversas vezes paralisadas, abandono de muitos projetos, bilhões desperdiçados e a mobilidade urbana ainda complicada. Mais vergonhoso talvez que a derrota do "7 à 1" perdido contra a Alemanha.
VLT de Cuiabá: Obra prometida para Copa 2014 segue sem operar. Foto retirada da internet, créditos aos autores. Fonte: https://diariodotransporte.com.br/2017/06/16/a-novela-da-obra-do-vlt-de-cuiaba/#prettyPhoto |
Voltando a São Paulo, com a linha 13 funcionando integralmente desde o dia primeiro de junho, até então a linha estava em operação assistida com horário reduzido, muitas reclamações surgiram. A principal reclamação é que os usuários com destino aos terminais do aeroporto precisam utilizar um ônibus gratuito disponibilizado pela concessionária que administra o aeroporto, a GRU Airport. Mas por que a estação de trem não ficou mais próxima dos terminais?
Simples. Quando projetaram a linha 13 no início dos anos 2000, previa-se duas linhas para atender a cidade de Guarulhos: A linha 13 Jade como um serviço de trens metropolitanos partindo do Brás, e a linha 14 Ônix como um serviço destinado aos passageiros do aeroporto partindo da estação da Luz com trens indo direto para os terminais aeroportuários e um percurso separado das demais linhas. Enquanto a linha Jade ficaria encarregada de atender a cidade de Guarulhos, que desde o final dos anos 1960 não possuía mais ligação férrea com a capital, a linha Ônix seria uma linha destinada aos passageiros que precisavam seguir para o aeroporto com maior agilidade.
Antigo Mapa Metropolitano de São Paulo: Note a presença das linhas 13 e 14. Mapa sem data, retirado da internet. |
Percurso do então "People Mover". Créditos aos autores, retirado da internet. Fonte: https://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1631623&page=399 |
Algum tempo depois, o projeto foi cancelado e a empresa construiu um simples terminal de ônibus anexo a estação da CPTM, e isso acabou gerando descontentamento por parte dos futuros passageiros. Hoje, o trajeto é feito por ônibus e levam entorno de sete minutos até os dois outros terminais, isso quando não há congestionamentos na rodovia Hélio Smitd, algo recorrente.
O mesmo ocorreu em um outro aeroporto que serve a capital paulista, o Aeroporto de Congonhas, onde desde 2012 a linha 17 Ouro do Metrô está em obras. A linha, que será em monotrilho, foi prometida como uma linha para atender a demanda da Copa de 2014 assim como a linha 13 Jade e deveria ser concluída, em sua primeira fase, até 2014. Com diversos atrasos ocorridos nas obras, a linha permanece até os dias atuais em obras e a nova data para a inauguração é em meados de 2019.
Terminal de ônibus anexo a estação Aeroporto: Percurso por ônibus é a principal reclamação. Foto: retirado da internet, crédito aos autores. |
Linha 17 Ouro: atendimento parcial. Foto: Créditos aos autores. Fonte: http://mobilidadesampa.com.br/2015/02/acompanhamento-de-obras-da-linha-17-ouro-2/ |
A própria linha se contradiz, pois quando decidiram pela tecnologia monotrilho que é mais barata e consome menos tempo de implantação, e olhamos as infinitas obras ao longo da avenida Jornalista Roberto Marinho (antiga Água Espraiada), é preciso lembrar que a falta de planejamento e interesses políticos atrapalham muito o desenvolvimento da mobilidade no Brasil em geral.
Embora esteja localizado em um ponto de grande movimento da cidade, na avenida Washington Luís (corredor Norte - Sul), é de difícil acesso para usuários oriundos do Metrô, sobretudo porque é necessário depender de linhas de ônibus comuns que são constantemente prejudicadas pelo trânsito.
Obras da futura estação Congonhas da L-17 do Metrô em meados de 2016. Fonte: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/06/obras-das-estacoes-da-linha-17-ouro-do-monotrilho-sao-retomadas.html |
Estação Engenheiro Goulart: Trens direto devem atrair mais passageiros. Foto: CPTM Divulgação. |
Serviços à serem oferecidos pela CPTM. Créditos aos autores, fonte: https://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1631623&page=399 |
Já há planos de expansão da linha 13 nas duas extremidades para atender de melhor forma os passageiros. A extensão rumo a Bonsucesso deve atender ainda mais passageiros dentro da cidade guarulhense, a mais populosa da Grande São Paulo, e a extensão rumo ao Parque da Mooca onde a linha deverá ter mais integrações à outras linhas, ou Chácara Klabin, região sul de São Paulo.
Futuro traçado da Linha 13 Jade. Fonte: http://www.aeamesp.org.br/22semana/wp-content/uploads/sites/5/2016/09/P3-Paulo-de-Magalh%C3%A3es.pdf |
Antes da inauguração da linha Jade, passageiros que precisavam ir da capital até o Aeroporto de Guarulhos não possuíam muitas opções. Quem precisava de agilidade e não poderia seguir de transporte coletivo, utilizava seu próprio automóvel ou de aplicativos, e mesmo assim ainda corriam riscos com problemas externos, tais como o trânsito caótico de São Paulo, o trânsito imprevisível da Rodovia Presidente Dutra ou da Ayrton Senna. Além disso, o passageiro ainda precisava se preocupar com a Rodovia Hélio Smitd, rodovia que dá acesso ao aeroporto partindo das rodovias Ayrton Senna e Dutra, que constantemente está congestionada.
Para quem não possui um veículo próprio ou não pode pagar pelo serviço de táxi ou outros, havia duas opções: seguir de um ônibus executivo pagando no valor de R$50,00 ou através da ligação suburbana com tarifa de R$6,15.
Ônibus da linha 257 TRO no Tatuapé: Famosa ligação entre o Metrô-SP ao Aeroporto de Guarulhos, serviço suburbano. Foto: Gustavo Bonfate. |
O serviço executivo do Aiport Bus Service parte de pontos de grande interesse de São Paulo como a Praça da República, Avenida Paulista, Aeroporto de Congonhas, e os terminais rodoviários da Barra Funda e Tietê. Embora seja um serviço diferenciado e sem paradas ao longo do percurso, é inacessível para muitos passageiros pelo custo.
O serviço semi-urbano, que custa bem menos, é a linha 257 TRO que parte do Terminal 3 do Aeroporto de Guarulhos, atende os outros dois terminais e segue para o terminal norte da Estação Tatuapé. Ambos os serviços, executivo e suburbano, são controlados pela EMTU-SP (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) e operados pela Serveng, empresa contratada pela EMTU. Há outras linhas metropolitanas que atendem o aeroporto como a 800 TRO (Mogi das Cruzes - Estudantes) e custando R$15,95, e a 538 TRO (Arujá - Centro) custando R$5,90.
Além disso, ainda há linhas municipais de Guarulhos que atendem o aeroporto, com a linha 488 Circular Aeroporto que parte de um acesso próximo ao Terminal 3 e circula os outros dois terminais. A linha 331, que parte do Terminal Metropolitano do CECAP, atende a rodoviária da cidade e segue para os terminais do aeroporto. Ainda há uma linha seletiva, a S172, que atende pontos de interesse tais como o Internacional Shopping e o centro guarulhense. As duas primeiras linhas custam R$4,70 pagando em dinheiro em espécie e R$4,30 no bilhete único de Guarulhos, e a seletiva R$5,90.
Serviço executivo para o Aeroporto: Embora uma ligação direta, é muito caro para alguns passageiros. Foto: Gustavo Bonfate. |
Trem chegando à estação Aeroporto - Guarulhos: Trem deverá auxiliar parte da população guarulhense. Foto: Gustavo Bonfate. |
Por fim, podemos ver que ao mesmo tempo em que a mobilidade urbana dentro das grandes cidades brasileiras caminham de forma complicada, o transporte entre as cidades até os seus respectivos aeroportos também sempre foi prejudicada por interesses políticos e econômicos. Assim como São Paulo, que depende cegamente dos transportes sobre rodas para acessar os seus terminais aeroportuários (seja Guarulhos, Congonhas e Viracopos em Campinas), muitas outras capitais ainda não resolveram ou amenizaram essa questão. A medida que o tráfego aéreo aumenta a cada ano, os problemas podem agravar cada vez mais e caberá as esferas públicas tomarem alguma decisão quanto a isso.
Texto: Victor Santos.
Texto: Victor Santos.
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