A mais longa e antiga ferrovia da companhia fez parte da evolução do estado paulista no final do século XIX e leva em sua história a honra de fazer parte desse crescimento. Estamos falando da atual Linha 7 Rubi da CPTM, que faz ligação de São Paulo à Jundiaí passando por outras cinco cidades, além da região norte da capital paulista. Essa linha, junto com a Linha 10 Turquesa, ajudou São Paulo a ter seu valor histórico e econômico, além de cultural, e hoje falaremos algumas curiosidades sobre essa linha centenária.
Estação provisória de Francisco Morato com o mais novo trem da linha: Série 9500 | . |
Continuação da Santos - Jundiaí
A Linha Rubi, junto com a Linha Turquesa, formam parcialmente a antiga rota Santos – Jundiaí da São Paulo Railway, que iniciou operações nesse trecho em 16 de fevereiro de 1867. Quando o Governo Federal assumiu a operação, criou-se a Estrada de Ferro Santos à Jundiaí que iniciou operações no trecho em 1947, alterando alguns aspectos da ferrovia como estações, vias e sistemas operacionais, padronizando, por exemplo, o projeto de arquitetura das estações construídas nesse período para atender à crescente demanda dos trens urbanos. Um exemplo disso são as estações Piqueri e Vila Clarice, muito semelhantes as estações do trecho Luz - Rio Grande da Serra como São Caetano, Santo André e Utinga. Com a criação da CPTM em 1992, a mesma dividiu a linha em dois trechos: Linha A Luz – Francisco Morato – Jundiaí (atual Linha 7), e Linha D Luz – Rio Grande da Serra (atual Linha 10). Mesmo dividida, as linhas ainda possuíam conexão no marco zero da companhia, a Estação da Luz, mas desde 2011, a Linha 10 passou a fazer terminal na Estação Brás, uma estação antes, deixando de fazer conexão com sua antiga continuação.
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Linha 10 faz final na Estação Brás atualmente. |
Linha mais longa do sistema
Com 60,5 quilômetros de extensão, a Linha Rubi é a única linha da CPTM que atende cidades fora da Região Metropolitana de São Paulo, chegando até a cidade de Jundiaí e atendendo as cidades de Campo Limpo Paulista e Várzea Paulista, na Aglomeração Urbana de Jundiaí. Por isso, essa linha possui uma característica um pouco mais regional do que urbana, fazendo ligação entre a capital e cidades do interior paulista. Em alguns horários específicos, os trens partem da estação da Luz e chegam até a estação Jundiaí, sem a necessidade de baldear na estação Francisco Morato, com cerca de 1h30 de percurso. Houve interesses de estender a linha até a cidade de Campinas, passando provavelmente por Louveira, Vinhedo e Valinhos, e aproveitando o antigo leito ferroviário da extinta Companhia Paulista de Estradas de Ferro - CPEF. Até o momento, esse projeto ainda não caminhou para algo mais próximo da realidade nos anos seguintes.
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Estação Jundiaí, estação centenária. Por Yuri Gabriel. |
Primeira viagem no trecho
Embora tenha sido inaugurada oficialmente no dia 16 de fevereiro de 1867, dois dias antes da inauguração oficial era realizado uma viagem apenas com os engenheiros, pessoas influentes da companhia e o então Presidente da Província de São Paulo, o Conselheiro José Tavares Bastos. A viagem durou 2 horas e meia entre a Estação São Paulo (atual Luz) e “Jundiahy”, saindo às 9 horas da capital, retornando no mesmo dia com a comitiva. Ou seja, foi no trecho da atual Linha Rubi que ocorreu a primeira viagem da São Paulo Railway, a primeira viagem, embora não comercial, da primeira ferrovia paulista, mesmo que as viagens comerciais só tenham sido iniciadas somente dois dias depois.
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Uma das primeiras locomotivas da São Paulo Railway. Foto retirada do livro Memórias de uma Inglesa. |
O pior acidente ferroviário da CPTM
O fato mais triste dessa linha ocorreu no dia 28 de julho de 2000, após uma repentina falha no sistema de energia dos trens que paralisou a linha a partir das 19h15 daquela fatídica sexta-feira de julho. Por conta disso, os trens não conseguiram prosseguir viagem, e um destes trens foi a série 1700, que foi evacuada em Jaraguá e permaneceu estacionada esperando a linha normalizar. Na Estação Perus, estação seguinte sentido Francisco Morato, o trem da série 1100 já havia estacionado na estação e estava embarcando passageiros para seguir viagem rumo ao interior. Por volta das 21h15, cerca de duas horas após o inicio da falha, o trem estacionado em Jaraguá começou a se movimentar, pois por conta da falta de energia, os freios não funcionaram devidamente, e por isso o trem começou a descer rumo a estação Perus. O maquinista afirmou que tentou "calçar" o trem para evitar a movimentação, mas a tentativa falhou e o trem seguiu rota de colisão. Durante a sua descida, já que entre Jaraguá e Perus há um declive e curvas que proporcionaram mais velocidade para a composição desgovernada. Em sua descida, o trem danificou seriamente a rede aérea e prejudicou que o trem estacionado em Perus saísse da rota de colisão, embora o maquinista tenha tentando em última tentativa de evitar o desastre avisando por rádio para evacuar o trem. Por fim, aconteceu o pior, a colisão foi certeira e no final acabou com a vida de nove pessoas e feriu 115, fazendo deste o pior desastre das ferrovias paulistas na fase da CPTM. Na época, o acidente foi chamado pelo então diretor de operações, João Zaniboni, de "fatalidade". Recentemente a justiça determinou, após quase 12 anos de investigações, que a culpa integral é da CPTM pelo acidente, e determinou que a companhia paulista pagasse indenizações para as mais de 100 vítimas do acidente e as famílias das vítimas fatais. Infelizmente esse fato ensinou uma dura lição a companhia e para o Estado, e esperamos que uma tragédia dessas jamais ocorra novamente.
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Foto da Estação Perus na manhã seguinte ao acidente. Fonte: Folha de S. Paulo |
Trens "Loop" e viagens diretas
Assim como nas demais linhas, a Linha Rubi possui os trens que realizam viagens parciais ou excepcionais como entre Caieiras e Luz, e Luz e Lapa, essas apenas nos picos. Além destas, há viagens diretas ligando São Paulo (Luz) à Jundiaí, sem a necessidade de baldeação em Francisco Morato, como ocorre com mais frequência já que o trecho principal é entre Luz e Francisco Morato, e a extensão operacional entre Francisco Morato e Jundiaí. O trecho também possui as viagens excepcionais do Expresso Turístico da CPTM, que liga Luz a Jundiaí sem paradas, porém mostrando toda a história da linha, além de um roteiro turístico programado para os passageiros que lotam os vagões nas viagens.
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Mapa da rota do Expresso Turístico. Fonte: CPTM |
Possui três tipos de estações
Nessa linha, também é possível observar que existem três tipos de estações em operação, desde estações originais, do tempo da São Paulo Railway como Jaraguá e Caieiras, até as mais novas como Vila Aurora e Franco da Rocha, no caso dessa última ela foi reconstruída e a antiga desativada. Quando a companhia assumiu o trecho, haviam estações depredadas e em péssimo estado de conservação, sendo necessário algumas reformas e adaptações, visto que a maioria foi construída pela Rede Ferroviária Federal S/A - RFFSA em meados de 1960 e 1970, época em que não era considerado as normas de acessibilidade. Embora o processo de modernização das estações esteja muito lento, aos poucos estão sendo entregues estações mais novas como Vila Aurora, e a reconstruída Franco da Rocha, que ganhou um novo prédio mais ao sul da estação original que ainda está de pé por ser outra estação centenária da linha. Ou seja, das 17 estações, apenas Luz (parcialmente), Palmeiras-Barra Funda, Vila Aurora e Franco da Rocha estão de acordo com a Norma de Acessibilidade. A reconstrução de Francisco Morato está tão atrasada que a estação provisória montada um pouco ao sul da antiga estação, construída em 1982 e demolida parcialmente para a reconstrução, já não consegue receber tantos usuários vindos da extensão e da linha principal e vice-versa. Não há planos ou datas para que todas as estações da linha possam ser reformadas ou reconstruídas.
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Nova Estação Franco da Rocha, de 2015. Foto retirada da internet, créditos ao autor. |
Estação Lapa
Uma curiosidade e uma dúvida frequente de passageiros, moradores da região e funcionários é o porquê existem duas Estações Lapa da CPTM. Uma delas está localizada na Linha 7, a terceira estação partindo da Luz, enquanto a outra está localizada à cerca de 500 metros a leste e faz parte da Linha 8 Diamante da CPTM.
O Bairro da Lapa existia antes mesmo da chegada da São Paulo Railway, e quando em 1867 a ferrovia começou a cortar o bairro, muitas fabricas começaram a se instalar nos arredores para facilitar a chegada e partida das mercadorias. Em fevereiro de 1899, a SPR inaugurou sua estação no local, onde hoje é denominado de Lapa de Baixo. Em 1875, a Estrada de Ferro Sorocabana é inaugurada e sua Linha Tronco que parte de São Paulo em direção a Sorocaba passa a atender também ao bairro, mas somente em junho de 1958 é inaugurada uma estação no bairro, chamada inicialmente de “Km 7”, embora já existisse uma parada mais simples um pouco mais à frente de onde a estação atual foi construída. Em 25 de janeiro de 1979, foi inaugurado o prédio atual, já com o nome de Lapa e mais próximo do centro do bairro. O fato é que, pelo fato de haver duas companhias ferroviárias no bairro, é de se imaginar que haveria também duas estações distintas já que as companhias não possuíam ligação administrativa entre si, embora houvesse ligação física nessa região. Seja como for, em 1994 a CPTM assumiu as linhas e estações, e houve muitos projetos para unificar as estações Lapa, mas a questão é que enquanto a Lapa – B, chamada assim por ser a Lapa da Linha 8, antiga Linha B, atende ao centro do bairro e ao terminal da SPTrans, a Lapa – A, chamada assim por ser a Lapa da Linha 7, antiga Linha A, atende a parte industrial do bairro. A questão é que enquanto não acharem uma alternativa para não deixar de atender ambos os lados da Lapa, ainda existiram as duas estações. Mesmo que pareça estranho hoje, antigamente era comum haver duas estações de companhias diferentes no mesmo bairro.
O Bairro da Lapa existia antes mesmo da chegada da São Paulo Railway, e quando em 1867 a ferrovia começou a cortar o bairro, muitas fabricas começaram a se instalar nos arredores para facilitar a chegada e partida das mercadorias. Em fevereiro de 1899, a SPR inaugurou sua estação no local, onde hoje é denominado de Lapa de Baixo. Em 1875, a Estrada de Ferro Sorocabana é inaugurada e sua Linha Tronco que parte de São Paulo em direção a Sorocaba passa a atender também ao bairro, mas somente em junho de 1958 é inaugurada uma estação no bairro, chamada inicialmente de “Km 7”, embora já existisse uma parada mais simples um pouco mais à frente de onde a estação atual foi construída. Em 25 de janeiro de 1979, foi inaugurado o prédio atual, já com o nome de Lapa e mais próximo do centro do bairro. O fato é que, pelo fato de haver duas companhias ferroviárias no bairro, é de se imaginar que haveria também duas estações distintas já que as companhias não possuíam ligação administrativa entre si, embora houvesse ligação física nessa região. Seja como for, em 1994 a CPTM assumiu as linhas e estações, e houve muitos projetos para unificar as estações Lapa, mas a questão é que enquanto a Lapa – B, chamada assim por ser a Lapa da Linha 8, antiga Linha B, atende ao centro do bairro e ao terminal da SPTrans, a Lapa – A, chamada assim por ser a Lapa da Linha 7, antiga Linha A, atende a parte industrial do bairro. A questão é que enquanto não acharem uma alternativa para não deixar de atender ambos os lados da Lapa, ainda existiram as duas estações. Mesmo que pareça estranho hoje, antigamente era comum haver duas estações de companhias diferentes no mesmo bairro.
Estação Lapa da Linha 7. Foto retirada da internet, créditos ao autor.
A Linha vem recebendo investimentos na frota
Desde o início da operação sob domínio da CPTM, a linha demonstrou que a necessidade de transporte era maior do que a frota disponível naquela época, em meados de 1994. Para se ter uma ideia, a frota mais nova em operação até então na linha era a série 1700, construído pela Mafersa em 1987 para atender a encomenda da então CBTU/RFFSA. A linha seguiu operando até os anos 2000 com apenas duas únicas frotas na linha principal, a série 1100, construída em 1957 pela Mafersa sob licença da Budd e encomendada pela então Estrada de Ferro Santos - Jundiaí, e a série 1700. Embora a companhia tenha testado a então recém chegada série 2100, a série não conseguiu desempenhar um bom papel devido a suas características mais regionais que metropolitanas. Basicamente somente em 2010 a CPTM entregou um trem novo para a linha, a recém chegada série 7000, que prometeu boa parte das encomendas dessa frota para a Linha 7 e Linha 12, promessa essa que não foi cumprida uma vez que a CPTM espalhou a encomenda dos 40 trens entre as linhas 7, 9, 11 e 12. Em meados de 2014, a série 3000, que operava inicialmente na Linha 9 e posteriormente foi para a Linha 8, chegou para a operação na linha após ficar um tempo sem operar. Mas somente em 2016 é que a linha começou sua nova fase: deu início a chegada dos primeiros novos trens da série 8500, fabricados pela CAF em Hortolândia -SP, que iniciaram operações em setembro de 2016. Posteriormente, a nova série 9500, encomendada junto com a série 8500 porém fabricada pela coreana Hyundai-Rotem, iniciou operações em junho de 2017. Ao todo, serão 65 novos trens para a CPTM, sendo 30 da série 9500 e 35 da série 8500, onde boa parte está em operação nas linhas 7 e 11. Pouco a pouco a companhia vem substituindo a frota da linha, espera-se que até 2018 boa parte da frota antiga da linha esteja retirada de operação e assim o conforto dos usuários aumente consideravelmente.
A esquerda, a série 1700 de 1987. À direita, a série 9500, o mais novo trem. Por Yuri Gabriel |
Com 60,5 km de extensão, sendo 39 km entre Luz e Francisco Morato, e 21,5 entre Francisco Morato e Jundiaí, possui 18 estações que atendem à cerca de 450 mil passageiros por dia sendo a quarta linha mais movimentada da CPTM e possui intervalos entre 7 e 12 minutos em dias úteis. Possui conexões nas estações Luz, com as linhas 1 Azul e 4 Amarela do Metrô e a Linha 11 Coral da CPTM, em Palmeiras-Barra Funda, com as linhas 3 Vermelha do Metrô, 8 Diamante da CPTM e com o Terminal Rodoviário, e em Francisco Morato com a extensão operacional para Jundiaí. Além disso, possui integração física e tarifada com as linhas municipais de cada município atendido, linhas intermunicipais da EMTU-SP e linhas suburbanas da ARTESP.
Dados da linha 07-Rubi. Autor: Gustavo Bonfate. |
Projetos para o futuro
Assim como na Linha 10, a Linha 7 tem diversos projetos que na maioria dos casos estão atrasadas ou se quer saíram da mesa de projeto. Um deles é a criação de um trem expresso entre Luz e Jundiaí, algo que seria mais um trem regional do que um trem metropolitano, anunciado em meados de 2011 e que jamais saiu da promessa. Também há planos de construir ou reconstruir estações no trecho, mas também está atrasado e sem datas para que isso aconteça, prejudicando e dificultando ainda mais a viagem. Assim como o estado tem o dever de investir em melhorias, o usuário deve cobrar essas melhorias sem levar em consideração ideologias ou partidos, e sim a melhora de vida da população em geral.
Projeto da Estação de Francisco Morato. Fonte: Amigos da CPTM.
Fontes: CPTM - Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, Folha de São Paulo, Estações Ferroviárias do Estado de São Paulo.Projeto da Estação de Francisco Morato. Fonte: Amigos da CPTM.
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