sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Linha 7-Rubi e o Trem Intercidades: Garantia de um projeto sem sucesso

Foto: autor.
O empenho do atual governador João Doria (PSDB) em criar uma ligação ferroviária entre São Paulo e Campinas está inegavelmente altíssimo, com notícias sobre os avanços do projeto sempre sendo divulgadas. Porém, sabemos que desde que se começou a falar nessa ligação, muitas alterações foram feitas, de modo a tornar o projeto mais barato, tanto para o estado, quanto para a iniciativa privada, o que fez com o projeto fosse simplificado.
Em outras palavras, o governado atual quer tirar do papel, mesmo que para isso o serviço seja muito aquém do previsto ou de algo realmente atrativo e que faça frente em relação ao modal rodoviário, atualmente o principal meio de transporte entre as cidades. Isso, de certa forma, tem ficado claro, à medida que vão anunciando alguns números, diretrizes e características do futuro serviço em si.

Há algumas semanas, estivemos no evento Arena ANTP e assistimos uma palestra do presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), Pedro Moro, e do Coordenador da Comissão de Monitoramento das Concessões e Permissões (CMCP), Michael Sotelo Cerqueira. 
O primeiro focou na concessão das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, enquanto que o segundo falou da concessão da Linha 7-Rubi junto com o projeto do trem intercidades (da sigla TIC).
Pois bem, durante sua fala, dois detalhes nos chamaram a atenção: o porquê de incluir a Linha Rubi no pacote e o fato de ainda não saberem o preço da passagem.
No caso da inclusão da Linha 7, Michael afirmou que isso foi implementado para evitar problemas por haver duas empresas diferentes operando na mesma faixa. Embora seja um bom argumento, não é evidentemente algo baseado em fatos técnicos.
Veja, se há uma faixa de domínio, de um ponto até o outro, a CPTM operaria, enquanto que no restante da área, a concessionária do TIC prestaria seu serviço. Não há problema algum nisso, visto que essa situação de compartilhamento de vias entre duas empresas distintas existe em vários países do mundo, como Alemanha, França e Japão, por exemplo.
Outro detalhe diz respeito ao valor da tarifa. Durante a apresentação, alguém perguntou sobre qual seria o valor da tarifa da ligação entre São Paulo e Campinas. Michael, em seguida, desconversou e alegou que ainda não tinham ideia de preço, porque o modelo de concessão e as diretrizes ainda estavam sendo finalizados e seria perigoso falar em valor nesta etapa do projeto.
Entendemos seu ponto de vista, porém, os responsáveis pelo projeto devem sim, ao menos, estipular um teto tarifário para ser competitivo perante ao modal rodoviário. Caso contrário, o projeto poderá nascer fadado ao fracasso.

Atualmente, o percurso entre São Paulo e Campinas, por ônibus, custa R$35,00, em média, enquanto que por carro, sai um pouco mais caro, sendo dois pedágios de quase R$10,00 reais na Rodovia dos Bandeirantes. Um carro popular faz, em média, 15 km/l. Considerando a distância de 100 km entre São Paulo e Campinas, seriam gastos 7 litros de combustíveis, que multiplicados pelo valor da gasolina, em média, R$4,00, resultaria em R$28,00. Somando aos dois pedágios da rodovia, serão gastos R$48,00 em média por viagem. Isso considerando se a pessoa estiver viajando sozinha no carro. Caso esteja acompanhada, serão R$24,00 por pessoa.
Portanto, o valor não deve ultrapassar esse teto. Mesmo porque, dependendo de onde será o destino da pessoa, ela terá que gastar mais com o deslocamento da estação até o seu destino final, fato que de carro não ocorrerá, pois poderá parar diretamente em seu destino.

Outro detalhe é em relação ao tempo. Os estudos dão conta de uma hora entre São Paulo e Campinas, tempo muito curto considerando a situação das vias e, principalmente, sua geometria, com muitas curvas. Vale lembrar que o percurso estudado para a implementação do TIC é antigo e pertencia a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, a CPEF, herdada pela Fepasa no início dos anos 1970 e posteriormente concedido a MRS Logística em meados dos anos 1990.
A Linha 7-Rubi leva, hoje, 1h30 entre as estações Luz e Jundiaí, cidade essa que, digamos, está na metade do caminho entre São Paulo e Campinas. Em outras palavras, estão afirmando que farão em 2/3 do tempo o dobro da distância. Seria relativamente difícil cumprir isso na prática.
Para o blog, uma coisa está claríssima: a Linha 7-Rubi está incluída na concessão do TIC por dois motivos. O primeiro deles é a redução de aportes por parte do governo estadual. O segundo é a garantia para a futura concessionária, caso o TIC fracasse.

Em outras palavras, caso o serviço regional não vingue, a concessionária teria a Linha 7-Rubi para aferir suas receitas e explorá-la comercialmente. O governo, então, não teria que repassar grandes subsídios para a empresa ou até mesmo, em uma situação drástica, ter que lidar com uma eventual rescisão contratual. É simplesmente isso e nada mais.
É lamentável, pois no passado, o TIC seria muito mais robusto, promissor e realmente competitivo. Inclusive a usariam um traçado praticamente novo, para ter ganho de velocidade, por exemplo. Mas por conta dos altos investimentos iniciais por parte da iniciativa privada, tal projeto tornou-se menos interessante. 
Por esse motivo, vai um serviço ruim mesmo, só para dizer que foi feito e, assim, ser usado pelo governador Doria como trampolim eleitoral na eleição de 2022. Afinal, ele nunca se preocupou com a qualidade do projeto e os seus benefícios. Basta ver o erro grosseiro ao trocar o monotrilho por BRT na Linha 18-Bronze (veja mais aqui: BRT vs Monotrilho: Uma guerra sem vencedor).

Texto: Victor Santos.

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