terça-feira, 11 de outubro de 2016

Estação Tamanduateí: De Parada à Estação Essencial

Estação Tamanduateí
Foto: Gustavo Bonfate.

No último dia 21 de setembro, a Estação Tamanduateí completou seis anos em operação da nova estação. Anteriormente a parada atendia em outra estrutura inaugurada ainda na década de 1950 que operou continuamente até o dia 21 de setembro de 2010, em um sábado ensolarado do final de inverno. Veremos hoje a importância dessa estação não só para o bairro, mas pra toda a região do ABC.
Parada Vemag, destaque principal para a fábrica e a parada em meio a tudo isso.
(Foto retirada do site Estações Ferroviárias, por Wanderley Duck)
Segundo os dados da CPTM, a Estação Tamanduateí velha foi inaugurada em 25 de outubro de 1947 como uma simples parada e com o nome de Vemag. A parada sempre foi ponto de partida e chegada dos trabalhadores da região que era repleta de indústrias e galpões que usavam a ferrovia como principal meio de transporte para mercadorias, mas era a Vemag a maior fábrica da região, ocupando uma área de 1.091.500 metros quadrados, pois além da fabricação de veículos nacionais, a fabricante também era licenciada por diversas outras fabricantes estrangeiras como a Studebaker, Ferguson, Scania Vabis, entre outras. Em 1967 a fábrica Vemag foi comprada pela Volkswagen que inicialmente se instalou no parque industrial da antiga Vemag (Fábrica 2 Volkswagen como era chamada), mas na década de 1980 foi fechada definitivamente e abandonada. O nome foi alterado mais tarde para Tamanduateí, referência ao Rio Tamanduateí que passa próximo da parada. Essa alteração foi feita já no final da década de 60 quando a parada simples com duas plataformas laterais e horários específicos de embarque foi elevada para Estação de Trens Urbanos.
A região, foto do início dos anos 2000.
(Foto retirada do site DKW Candango, créditos ao autor.) 
A estação pertencia a antiga Estrada de Ferro Santos – Jundiaí, ou EFSJ, e foi inaugurada para atender aos trens metropolitanos da mesma que viu a demanda por passageiros das regiões fabris da Vila Carioca e Ipiranga aumentarem consideravelmente. Embora só viesse a aparecer nos mapas da empresa em 1967. A estação sempre sofreu com as inundações, pois por está relativamente próximo do Rio Tamanduateí, sempre que chovia a região ficava alagada, o que paralisava a operação dos trens. A EFSJ chegou ao fim em 1969, quem assumiu o sistema e a estação foi a Rede Ferroviária Federal, ou RFFSA, e em 1996 foi a CPTM quem assumiu o sistema juntamente com as estações.
A estação em 1990.
(Foto retirada do site Estações Ferroviárias, por William Gimenez)
Com o passar dos anos, a estação foi ficando defasada, pois a estrutura não possuía rampas de acesso ou elevadores, uma vez que o projeto é da década de 60, onde as normas de acessibilidade não existiam. Os acessos a estação eram precários que ficavam na Rua Vemag, que antigamente tinha uma passagem de nível e foi fechada. A rua era feita de terra e constantemente estava em péssimas condições, dificultando o acesso da estação. O prédio ficava escondido atrás de galpões e muitas vezes alguns passantes nem sabiam que ali existia uma estação, pois o leito ferroviário fica a cerca de 100 metros de distancia da Avenida Presidente Wilson (lado Oeste) e da Rua Guamiranga (lado Leste).
Fila para embarcar na Ponte-Orca do Metrô, nota-se ao fundo a nova estação.
(Foto retirada do site Histórias Paulistanas, créditos ao autor.)
Foto do acesso Leste, era bem precário o atendimento aos passageiros.
(Foto retirada da internet, créditos na foto).
O prédio era semelhante à Estação Ipiranga, porém com algumas características incomuns como uma grade na passarela que dividia quem já tinha efetuado o pagamento da tarifa em um dos lados da linha e iria para o sentido contrário e quem estava apenas atravessando de um lado para o outro da ferrovia, sem ter a intenção de entrar na CPTM, essa arquitetura foi adotada em quase todas as estações das linhas 7 e 10. Posso falar com certeza que a estação não era atrativa para os moradores da região e nem servia bem aos usuários, falo isso por ser morador da região à anos e embarquei apenas três vezes na estação, a última foi um ano antes do fechamento da mesma. Sempre existiam linhas de ônibus que faziam final na Rua Vemag já que a estação era o único acesso da região a Rede Metro ferroviária, uma vez que o metrô ainda não tinha chegado à região. Os galpões abandonados da antiga Vemag deram lugar para o Central Plaza Shopping em 1999 e boa parte dos funcionários que utilizavam a estação diziam que ficavam com medo de sair muito tarde e acessar a estação, pois os acessos eram escuros e pouco movimentados e a região, abandonada desde a década de 80, não era tão atrativa. A degradação do local e o abandono tomavam conta das ruas Guamiranga, Vemag e Patriarca, passando longe do que era a grande época das industrias naquele local.
Em meados de 2007 foi dada como iniciada as obras da extensão da Linha 2 Verde do Metrô em direção a Vila Prudente passando pelas estações Sacomã e Tamanduateí. Foi então iniciado a construção da Nova Estação Tamanduateí, que ficaria a cerca de 100 metros ao norte da estação original. A construção foi feita em conjunto com a nova estação do metrô que ficaria logo acima da estação, fazendo integração com a mesma por meio de um único mezanino acima das plataformas da CPTM. Com as obras da nova estação, a antiga começou a ser demolida e operou então com plataformas provisórias até que a nova estação estivesse concluída. Funcionou entre 2007 e 2011 uma Ponte-Orca gratuita entre Tamanduateí e Alto do Ipiranga do metrô. Esse serviço era oferecido pelo Metrô com o intuito de integrar os usuários do sistema enquanto as obras da extensão da Linha 2 eram concluídas. Após o fim das obras da Estação Sacomã, o serviço foi diminuído até essa estação e depois com a inauguração da Estação Tamanduateí o serviço foi encerrado.
Estação antiga já desativada. Hoje demolida por completo.
(Foto retirada do site Estações Ferroviárias, por Alexandre L. Giesbrecht)
Após três anos em obras, às 11h00 do dia 21 de Setembro de 2010 foi dada como inaugurada a Estação Tamanduateí e a antiga foi fechada definitivamente por volta das 13 horas, quando partiu os últimos trens sentido Rio Grande da Serra e Luz . O destino do antigo prédio foi à demolição, que ocorreu pouco a pouco até não existir vestígios da antiga estação, que funcionou por cerca de 60 anos. Durante o dia, pouco antes da inauguração, havia uma movimentação entre o passageiros e moradores da região para acompanhar a inauguração de perto.

Nova Estação

Acessos Leste e Oeste respectivamente.
Fotos: Gustavo Bonfate.
Inaugurada no dia 21 de setembro de 2010, a nova Estação Tamanduateí foi entregue com seis meses de atraso, pois inicialmente a data prevista tinha sido prometida pelo então Governador Geraldo Alckimin em março de 2010. Com os atrasos nas obras, não foi estipulada outra data até que as obras fossem concluídas. Para o Metrô foi construído um novo pátio de trens que fica ao lado da estação. Para a CPTM, a estação representou um avanço na mobilidade da Linha 10 Turquesa, cuja maioria das estações não seguem os parâmetros de acessibilidade. 

Estação Tamanduateí
Foto: Gustavo Bonfate.
A estação da CPTM foi projetada para receber o Expresso ABC, sendo esta uma de suas poucas paradas entre Luz e Mauá. Como o projeto foi engavetado e esquecido pelo Governo, a estação segue com quatro plataformas sendo usada apenas as plataformas 2 e 4 para o serviço comum, a plataforma 3 fica na via auxiliar e a plataforma 1 está sem via e sem uso. 
Foto do lado Oeste, na baia dos ônibus intermunicipais.
Na foto o ônibus da linha 047 TRO. Foto: Gustavo Bonfate.
A estação foi inaugurada 20 dias depois da inauguração da Estação Vila Prudente da Linha 2, por isso os trens do metrô passavam direto pela estação. Houve uma mudança no quesito urbano da região onde ruas de paralelepípedo foram asfaltadas, arvores foram plantadas ao longo do elevado do metrô (sentido Sacomã) e a região da Vila Carioca, predominantemente industrial, recebeu um melhor acesso ao lado leste da ferrovia, pois foi construída uma passarela que, além de realizar o acesso a estação, também facilitou o acesso a ambos os lados da ferrovia. Algumas linhas de ônibus municipais foram alteradas para melhor atender a estação e três novas linhas metropolitanas foram criadas para atender aos moradores da região do ABC, hoje apenas uma está em operação. A operação do metrô inicialmente era no esquema Operação Assistida e tinha horário limitado para a realização dos testes do novo trecho, que possuía uma nova sinalização para os trens. O horário normal só foi implantado já no segundo semestre de 2011, quase um ano depois da inauguração.
Mesmo que os acessos ficam um pouco acima do nível da rua, em 2011 ocorreu uma enchente do Rio Tamanduateí que alcançou as escadas rolantes dos acessos e ilharam os passageiros que tiveram também problemas ao longo do dia com a lama na região.
Mezanino da estação, nota-se os bloqueios de transferência CPTM - Metrô.
Foto: Gustavo Bonfate.
O acesso principal da CPTM, onde a sua bilheteria está localizada, fica na parte leste da estação, pela Rua Guamiranga onde está localizado o Central Plaza Shopping. O acesso do Metrô fica pela Avenida Presidente Wilson, onde sua bilheteria também está localizada. A transferência entre o Metrô e a CPTM fica no mezanino comum da estação, no nível das bilheterias, facilitando a transferência. Além das bilheterias, a estação possui validadores para recarga de Bilhete Único e BOM (Lado Metrô), sanitários femininos e masculinos (um fora da área paga ao lado da bilheteria da CPTM, e outro dentro da área paga na parte do Metrô em um nível abaixo do mezanino), salas técnicas, elevadores, escadas rolantes, escadas fixas, bicicletário (no acesso da Rua Guamiranga), e para ciclos (no acesso da Presidente Wilson). Até um tempo atrás existia também uma bilheteria da Rede Ponto Certo que fazia a recarga do Bilhete Único, mas foi retirada e substituída por máquinas eletrônicas.
Trem saindo da estação sentido Rio Grande da Serra. Logo à frente o local da antiga estação.
Foto: Gustavo Bonfate.
A estação mudou a mobilidade urbana não só da região, como também dos passageiros oriundos do ABC, que ganharam outra integração com o Metrô assim como ganharam no tempo de viagem. Aos moradores da região, que só conseguiam acessar o Metrô via Brás pela Linha 10 da CPTM, ou por linhas de ônibus indo até as Estações Bresser-Mooca, Tatuapé, Vila Mariana, Ana Rosa ou Santa Cruz. Com a chegada do Metrô pode-se diminuir o número de integrações e custo de viagem, além de incentivar diversos moradores a deixar o carro em casa e seguir de metrô. Eu mesmo testemunhei diversos moradores do bairro deixando de usar o carro para ir ao centro e usar o Metrô e até a CPTM como locomoção. Alguns diziam que tinham medo de usar a antiga estação pois ficava em um local morto.
Futuro
A estação deve ganhar em alguns anos, talvez, mais uma linha de metrô: A Linha 18 Bronze do Monotrilho que deve ligar os bairros de São Bernardo do Campo, ABC, a Estação Tamanduateí passando por Santo André e São Caetano do Sul. A linha deve sair em 2020, bem atrasada, o que dificulta a mobilidade do ABC Paulista. Anexo a estação, também deve ser construído um outro pátio para a nova linha, que deve usar os terrenos que hoje estão abandonados mas um dia foram usados por fábricas e galpões.
Vista geral da estação com as plataformas da CPTM e do Metrô (mais acima).
Foto: Gustavo Bonfate.
Curiosidades
  • Com exceção da Estação Brás, a Estação Tamanduateí é a única da Linha 10 da CPTM à possuir os itens de acessibilidade que estão nos parâmetros da Norma Brasileira de Acessibilidade (ABNT NBR 9050).
  • Hoje, das quatro plataformas construídas para a CPTM, apenas duas são utilizadas no serviço normal e outra apenas ocasionalmente. 
  • Houve uma proposta do Deputado Estadual Edson Ferranini para trocar o nome atual da estação para Tamanduateí - Imperador do Ipiranga em homenagem à escola de samba localizada no bairro. Vamos considerar que a mudança de nome não tem qualquer sentido a não ser destacar a escola de samba, além do fato de não alterar em nada como as pessoas chamam a estação.
  • É a única estação da Linha 2 Verde à se conectar com a rede da CPTM diretamente.
  • Foi a última estação inaugurada na Linha 2 Verde,
  • Única estação elevada da Linha 2 Verde, enquanto que a Estação Santos-Imigrantes é semi elevada e a Estação Sumaré está elevada porém está debaixo de um viaduto, sendo então subterrânea.
  • A estação está localizada na divisa dos distritos da Vila Prudente e Ipiranga, e os bairros nos arredores são Vila Carioca, Vila Independência e Quinta da Paineira.
Detalhes sobre a Estação


Localização: Rua Guamiranga, altura do n° 600 (CPTM), e Avenida Presidente Wilson
Inaugurações: 1955 (Original), 21 de setembro de 2010 (Nova).
Fechamento: 21 de Setembro de 2010 (Original).
Linhas atendidas: Linha 2 Verde do Metrô, Linha 18 Bronze do Metrô (Futuramente) e Linha 10 Turquesa da CPTM.
Integração: Gratuita entre o Metrô e a CPTM. Tarifada entre as linhas da SPTrans e EMTU/SP.
Projeto/Construção: 2005/2010
Área total: 21.674 m²
Operação: CPTM/Metrô
Capacidade/Demanda média: 33.118 (Metrô)
Características gerais: Estação elevada (Metrô) e em superfície (CPTM) com acessos no nível da rua feitos por passarelas, escadas rolantes e fixas, elevadores, bicicletário, paraciclos, sanitários e bilheterias. 
Acessibilidade: Rota tátil, telefone para surdos, telefone adaptado para PCR, sanitários masculinos/femininos acessíveis, elevadores em todos os acessos e escadas rolantes. 
Siglas: TMD (CPTM) e TTI (Metrô).
Atrativos nos arredores: Alfândega Receita Federal, E.M.E.F. Francisco Meirelles, UBS Vila Carioca e Central Plaza Shopping.


Linhas de Ônibus Municipais (Acesso Rua Guamiranga).
Linhas de Ônibus Municipais (Acesso Avenida Presidente Wilson).
Linha de Ônibus Intermunicipal (Acesso Avenida Presidente Wilson).
Texto e revisão: Victor Santos e Gustavo Bonfate. 
Fontes: Folha de São Paulo, CPTM, Metrô/SP, EMTU, SPTrans, Luiz Esteves Arquitetura, Estações Ferroviárias e Histórias Paulistanas.

2 comentários:

  1. Matéria show de bola..parabéns, conheci um pouco mais sobre a estação, espero que utilizem logo as plataformas da CPTM que não estão sendo utilizadas.

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    1. Obrigado pela visita Carlos Eduardo! Sim, também esperamos um dia usarem todas as plataformas.

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