quinta-feira, 4 de maio de 2017

Viagem à Curitiba - Cidade Modelo (Parte 1)

Estufa do Jardim Botânico, cartão postal de Curitiba.
Acervo Victor Santos.
É difícil imaginar como funciona os transportes em outras cidades além da região metropolitana de São Paulo, principalmente nas grandes capitais. Nesse roteiro não iremos falar da capital paulista e nem das cidades ao redor, mas sim da capital paranaense, Curitiba, que sempre é usada como Cidade Modelo nos Transportes por ser a pioneira mundial na implantação do sistema BRT – Bus Rapid Transit Trânsito Rápido de Ônibus na década de 1970. Confira como foi a visita em Curitiba e nas cidades ao redor da mesma. Como foram vários dias em Curitiba, vamos dividir em quatro partes esse especial.
Esquema de troncalização das linhas.
Retirado do site da URBS.
Antes de tudo vamos explicar como funciona o sistema de transporte na capital curitibana:
O valor da tarifa dos ônibus está fixado em R$ 4,25 que pode ser paga em dinheiro, em alguns casos, e através do Cartão Transporte Usuário da cidade, cadastrado e entregue em determinados lugares.
O sistema é dividido em Cores e Categorias especificados para cada tipo de linha:
Vermelho – Para linhas expressas e paradoras dos corredores
Cinza – Para linhas diretas, também chamados de Ligeirinho
Verde – Para linhas inter bairros
Laranja – Para linhas alimentadoras locais
Amarelo – Para linhas troncais e convencionais que utilizam vias compartilhadas
Branca – Para linhas circulares do centro e Inter hospitais com trajeto, tarifa e custos diferenciados
Todas as linhas são administradas pela URBS (Urbanização de Curitiba S/A), que administra terminais, estações e linhas de ônibus dentro e fora da cidade através do RIT (Rede Integrada de Transportes). As linhas que atendem a outras cidades ao redor de Curitiba são administradas também pela COMEC (Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba), que integram em terminais fechados as linhas de outras cidades com as linhas expressas e diretas da RIT.
Ou seja, por R$ 4,25, você consegue atravessar a cidade e chegar até outros municípios pagando apenas uma tarifa e assim você pode tanto pegar as linhas locais, linhas diretas ou expressas para realizar sua viagem.
Nas linhas diretas e expressas, os ônibus são equipados com avisos sonoros das próximas estações, em quais portas o desembarque será realizado, quais conexões você pode ter em determinadas estações ou terminais, além do fechamento das portas. Praticamente um Metrô sob rodas.

Chegada à capital
Após 45 minutos de voo entre o Aeroporto Internacional de Guarulhos em São Paulo e o Aeroporto Internacional Afonso Pena em Curitiba, chegamos dentro do horário após um confortável e curto voo com a Azul Linhas Aéreas. Embora o aeroporto seja grande e bem sinalizado, ao tentarmos ir em direção ao centro da cidade, descobrimos que a linha 208 que liga o Aeroporto ao Centro Cívico, no centro de Curitiba, havia sido seccionada em outro terminal havia quase três semanas, embora a informação no site da URBS e no próprio aplicativo de ônibus Itibus ainda aparecesse à linha com partida do Aeroporto. E para piorar os funcionários não sabiam como deveríamos seguir para o centro se não usar o ônibus executivo que custou R$ 15,00 num percurso de pouco mais de 30 minutos até a Rodoferroviária onde enfim conseguimos cadastrar e utilizar o cartão de transporte da cidade para pagar as tarifas. Desconfortável essa falta de informação logo na chegada.
Bom, após o primeiro “probleminha”, seguimos para o centro utilizando a linha 303 Centenário – Campo Comprido que atendia a rodoferroviária pela estação tubo. Algumas coisas antes de tudo: quase ninguém conhece as linhas pela numeração, diferente de São Paulo, então tivemos que nos acostumar com o “Pega o ônibus Centenário sentido Campo Comprido”... Outra coisa é que TODAS as estações tubo possuem o pré embarque, cobradores para receberem o pagamento em dinheiro, mapa do eixo do corredor, e o painel que mostrava a linha que atendia aquela estação e as próximas chegadas quase que pontuais. Levamos pouco mais de 15 minutos até a nossa chegada ao centro a bordo de um biarticulado, relativamente lotado.
Estação Tubo padrão, Estação Visconde Nacar.
Acervo Victor Santos.
Primeira viagem
Depois da hospedagem, seguimos para a Praça Tiradentes, marco zero da cidade, onde encontramos o ponto inicial da Linha Turística e três estações tubos que eram atendidas por três linhas do sistema direto Ligeirinho. Como estávamos sem roteiro pronto, decidimos conhecer essas linhas diretas a fim de entender seu itinerário e atendimento, então seguimos com a linha 307 Santa Felicidade – Bairro Alto que realizava uma longa parada na Praça Tiradentes. Embarcamos e seguimos para o Terminal Bairro Alto. Outra dica para quem for visitar a cidade é que os terminais nem sempre são identificados como Terminais Bairro Alto, Centenário ou Campo Comprido, então fique atento a esse detalhe. Durante a curta viagem, uma simpática passageira nos contava como era o transporte na cidade e região, explicou como funcionava a integrações nos terminais e estações tubo, e explicou o que realmente era o sistema expresso, parador, diretas, inter bairros e locais (linhas de bairros). Ela admirava o sistema em São Paulo com o metrô e trens, e disse que embora o sistema de transportes em Curitiba fosse relativamente rápido e completo, é preciso melhorar muito. Irônico não? Enquanto aqui em São Paulo admiramos o transporte BRT dos curitibanos, lá na capital paranaense eles admiram São Paulo pelo metrô e trens que possuímos. Contudo, ela em nenhum momento disse que a capital precisa do metrô como os políticos dizem, apenas que melhorem o transporte atual para complementar o aumento da demanda.
Ônibus do sistema Ligeirinho estacionado na Estação Praça Tiradentes.
Acervo Gustavo Bonfate.
Após 40 minutos de viagem, chegamos ao Terminal Bairro Alto, um terminal relativamente simples, mas que tem uma função importante: integrar as linhas oriundas do centro com as linhas de bairro, embora não possua linhas expressas das canaletas, como eles chamam os BRT. A senhora nos acompanhou até pouco antes do final e indicou a linha Inter bairros III sentido Santa Cândida onde poderíamos utilizar ou as linhas diretas ou as linhas expressas do BRT. No terminal, nos transferimos para o Inter Bairros III sentido Santa Cândida, alias que linha interessante, liga dois terminais principais sem passar por grandes avenidas ou pelo centro. Essa linha é operada com articulados e não demorou a chegar a Santa Cândida onde podíamos utilizar a linha 203 Santa Cândida – Capão Raso, mas preferimos pegar mais uma linha direta na estação tubo do terminal, a linha 204 Santa Cândida – Pinheirinho que estava vazio no horário, por volta das 20h00. Nem 20 minutos de viagem e já estávamos no Terminal Cabral que, pelo horário, estava cheio, mas não para as linhas expressas com biarticulados, mas sim para as linhas diretas. O motivo talvez fosse porque as linhas diretas atendiam paradas próximas da Praça Tiradentes como a 607 Colombo – CIC, e foi nela mesma que viajamos onde encerramos o dia. Só um detalhe: as Linhas diretas ou expressas que atendem outras cidades partindo de Curitiba recebem o logo da "RIT" e um "M" indicando que é um ônibus que atende a região metropolitana, enquanto as linhas municipais recebem o logo da prefeitura.
Ônibus do sistema Alimentador, veículo Híbrido no Bairro Alto.
Acervo Gustavo Bonfate.
Opinião e avaliação do primeiro dia
Com exceção do probleminha no aeroporto logo após a chegada, o restante do dia transcorreu cheio de admirações do sistema. Painéis dentro dos ônibus das linhas diretas e das linhas de corredores anunciavam as próximas estações e conexões em determinadas paradas e terminais, e ainda anunciava por qual porta deveria desembarcar e ao fechá-las também anunciava. Isso é incrível, pois para turistas e até pessoas com dificuldades para saber em qual parada deve desembarcar, isso facilita muito e mostra que Curitiba é uma cidade organizada e a frente do tempo. A ideia de indicar que as portas 2 e 4 seria para desembarque facilita o fluxo do interior do veiculo, embora percebemos que as  pessoas se concentram nessas portas.
A troncalização em Curitiba foi implantada sem grandes problemas, as linhas locais desembarcam em terminais estratégicos e realizam a transferência para o sistema estrutural sem problemas. São Paulo até tentou troncalizar o sistema, mas há quase 20 anos sem sucesso. A ideia de ter duas opções para seguir desde os terminais até o centro reforça que Curitiba foi planejada para melhorar o deslocamento dos passageiros com linhas diretas, expressas e paradoras, além das inter bairros que deslocam passageiros entre os terminais sem passar pelo centro, mas também sem percursos longos e cansativos.
Biarticulado do sistema Troncal estacionado no Santa Cândida,
note o embarque por rampas do próprio veículo.
Acervo Gustavo Bonfate.
Nos dias seguintes a nossa chegada, veremos que nem tudo são flores no primeiro BRT do mundo, embora os moradores chamem o BRT de Curitiba de “Ônibus da canaleta” ou “Expressos” apenas. 

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