sexta-feira, 23 de junho de 2017

Linhas de Ônibus noturnas em São Paulo: Ainda falta algo?

Logotipo da Rede Noturna.
Fonte: SPTrans
Desde o dia 28 de fevereiro de 2015, a cidade de São Paulo passou a contar com linhas noturnas oficiais para atender a diversas regiões e necessidades, além de auxiliar a cidade que nunca dorme. Inicialmente existiam 151 linhas que se dividiam em linhas locais, atendendo a bairros distantes do centro a partir de terminais, e linhas estruturais, atendendo corredores principais e grandes avenidas dos bairros ou centro.
Ônibus em uma das linhas estruturais do sistema noturno.
Foto por José Euvilásio Sales.
As linhas noturnas se diferenciam das linhas diurnas comuns pela denominação, todas começam com a letra "N", e pelo itinerário, com o intuito de atender plenamente as regiões.
Com um pequeno ajuste, a rede atualmente conta com 150 linhas no total sendo 50 linhas estruturais e 101 linhas locais.
Desde que foi criado na gestão do então Prefeito Fernando Haddad (PT), a rede trouxe consigo melhores intervalos, itinerários interessantes, além de substituir o metrô que, por motivos de manutenção, não pode operar durante as madrugadas. No inicio, muitos passageiros foram contra as mudanças, principalmente pelo fato da SPTrans ter alterado o horário de operação de algumas linhas e extinguindo as poucas e irregulares linhas da madrugada, como foi o caso da mais famosa linha noturna: a 3310-10 Terminal Amaral Gurgel – Cidade Tiradentes Circular, que ficou famosa pelo seus 103 quilômetros de extensão e cerca de 3 horas de percurso, a famosa Rainha da Madrugada. Embora fosse uma das principais e conhecidas, possuía tão poucos horários que boa parte dos usuários das regiões que ela atendia não conhecia a linha, criada em meados de 1988. Fora essa, existia diversas linhas que ligavam regiões distantes ao centro, quase todas eram serviços complementares as linhas bases diurnas, ou as próprias linhas com extensão de horário, como foi a 3160-10 Terminal Vila Prudente – Terminal Parque Dom Pedro II, que operava com intervalos de uma hora nas madrugadas.
Ilustração feita pela SPTrans indicando as linhas substitutas da lendária 3310-10
Fonte: SPTrans.
Realmente a rede trouxe muitos benefícios para a população paulistana, mas será que mais passageiros não poderiam ser transportados na rede? Como sabemos, a Região Metropolitana de São Paulo é composta por 21 municípios onde boa parte dos deslocamentos é entre essas cidades e a capital paulista, e também entre essas cidades sem passar pela capital. Algumas dessas cidades possuem, assim como São Paulo, linhas que atendem o período da madrugada, como é o caso de Guarulhos e Santo André. Em alguns casos como Ribeirão Pires, existem ônibus que aguardam a chegada do último trem da Linha 10 Turquesa da CPTM para partir e atender diversos bairros da cidade.
E é ai que está o problema: como um passageiro que mora em Guarulhos, por exemplo, conseguirá ir ou vir para a capital se não existe nenhuma linha noturna metropolitana ligando os dois municípios de São Paulo? Embora existam linhas noturnas em Guarulhos, ela não tem ligação direta ou indireta com nenhuma linha municipal de São Paulo, embora existam algumas linhas intermunicipais que possuem partidas além da 0h que, infelizmente, são poucas para o tamanho da necessidade.
Imaginem um cidadão que estuda em uma faculdade, por exemplo, no Butantã e mora no ABC Paulista. Caso ele saia por volta das 23h30, que é o caso de muitos estudantes, ele precisará "correr" para não perder o último trem ou o último ônibus da sua cidade. Caso ele perder isso será um problema enorme, visto que as madrugadas paulistas andam bem perigosas.
Uma sugestão seria a EMTU-SP, que administra a operação das linhas intermunicipais, criar linhas que operam na madrugada para auxiliar os passageiros que precisam realizar diversas atividades na capital, seja lazer ou trabalho, pois é um tanto estranho e cômico uma das maiores regiões metropolitanas do mundo, se quer possui linhas intermunicipais na madrugada, mesmo com uma demanda mais baixa. Uma dessas linhas poderia, por exemplo, realizar o trajeto das linhas férreas da CPTM, assim como as linhas municipais de São Paulo faz o trajeto das linhas do Metrô. Também poderia possuir linhas ligando o centro dessas cidades, ou terminais principais, aos terminais das linhas noturnas da SPTrans, assim fazendo integração física tanto com linhas noturnas municipais de outros municípios, como com as linhas noturnas de São Paulo. A EMTU-SP até possui algumas linhas que operam na madrugada em dias e horários específicos, o Corujão, mas é pequeno dado ao tamanho da necessidade.

Um outro fato é que a SPTrans deveria fazer um reajuste nos atendimentos dos bairros, pois muitos pontos atrativos de diversas regiões ainda não possui o atendimento de linhas noturnas. Talvez um estudo melhor sobre a demanda resolvesse o caso. Alguns técnicos e passageiros criticaram o tipo de sistema que a SPTrans implantou de estruturação das linhas, que ao invés de trajetos do bairro para o centro direto, resolveram implantar o sistema bairro para o terminal, e do terminal para o centro. O fato é que criar linhas que ligam bairros ao centro ficaria mais difícil o controle das partidas e o tempo de trajeto ficaria ainda maiores, pois boa parte das ruas e avenidas dos bairros são estreitas, perdendo a eficiência da linha. Por isso, as linhas foram organizadas dessa forma com linhas locais circulares que atendem os bairros e os terminais de transferência, onde fazem conexão com as linhas estruturais que possuem no geral um itinerário mais rápido por corredores e grandes avenidas. A rede se diferencia até na remuneração, diferente da que é feita nas linhas comuns.
Terminal Parque Dom Pedro II, principal centro das linhas noturnas.
Fonte: G1 Globo.
Enfim, essa matéria foi apenas para destacar que a Rede Noturna de Ônibus de São Paulo trouxe sim muitas mudanças positivas para a cidade, principalmente para os usuários noturnos. Mas, ainda faltam alguns ajustes que fariam a rede mais eficiente ainda como mais linhas locais ou o desmembramento de linhas locais que fazem o percurso de duas até mais linhas diurnas. Além disso, a SPTrans poderia aproveitar o itinerário de algumas linhas noturnas e criar linhas diurnas que fazem o trajeto por serem interessantes como a N603-11 Metrô Jabaquara – Terminal Pinheiros via Av. Cupecê, N705-11 Terminal Santo Amaro – Terminal Pinheiros via Marginal Pinheiros, N101-11 Terminal Lapa – Terminal Parque Dom Pedro via Av. Marques de São Vicente, entre outras.
Então sim, ainda falta algo muito essencial no transporte noturno, que é a mesma possibilidade de chegar a outras cidades da Grande São Paulo, como acontece durante o dia através das linhas intermunicipais e pelas linhas férreas da CPTM.
Esquema de denominação da rede noturna.
Acervo Próprio.
Caso queira conhecer mais as linhas, pelos aplicativos de celular você consegue ver o trajeto, horários e localização dos veículos procurando pelas linhas. Ou então acessem o Olho Vivo da SPTrans ou o próprio site da empresa.

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