Articulado piso baixo total exposto na 12° da BusBrasil Fest em 2018. Foto: Victor Santos (autor). |
Essa característica foi implementada nos ônibus em muitos países como Estados Unidos e Alemanha em meados dos anos 1970, mas só chegou ao Brasil no final dos anos 1990, tornando-se comum nas cidades brasileiras somente no meio da década seguinte.
Foi oferecido como uma opção aos ônibus com piso convencional que não oferecem conforto e segurança aos passageiros com mobilidade reduzida, embora houvesse a opção da plataforma elevatória, ou mais conhecida como elevador. Vamos entender mais esse conceito de piso baixo nos ônibus e compreender suas vantagens e desvantagens.
Especificamente em 1998, a fabricante sueca Scania começou a testar sua mais nova linha de chassi para ônibus urbano no Brasil: o modelo L-94UB, uma variante piso baixo do modelo L-94IB. Esse chassi, fabricado logo em 1998, deu início a uma nova era no transporte sobre pneus, uma vez que com o piso rebaixado e motor na parte traseira do ônibus, o transporte seria acessível a todos sem causar maiores desconfortos aos passageiros. O primeiro modelo de ônibus fabricado com esse chassi foi um Marcopolo Torino GV (Geração 5).
Não demorou muito para que as demais montadoras de chassi oferecessem esse tipo de modelo, sendo a Volvo a segunda a fabricar o chassi piso baixo com seus B-7L logo no ano de 2000, e seguido da tradicional Mercedes Benz em 2001 com o O-500U.
A opção dos ônibus piso baixo no início parecia ser uma solução para as cidades que precisavam atender às exigências de acessibilidade no transporte, e ainda garantindo mais independência aos cadeirantes, idosos, gestantes e pessoas com carrinho de bebê ou com mobilidade reduzida.
Mas os problemas como o viário das cidades e falta de interesse das empresas em adquirir esse tipo de ônibus, estagnaram o maior aproveitamento desse conceito no país. Como esse tipo de chassi é mais caro que os ônibus convencionais com motor dianteiro e piso convencional, muitas empresas não queriam gastar mais com ônibus que, em alguns aspectos, aumentariam o custo com manutenção e aquisição de peças.
Padrão dos ônibus piso baixo dianteiro em São Paulo: duas portas na direita e duas na esquerda. Foto: Victor Santos (autor). |
Atualmente, a capital paulista segue como a maior frota de ônibus piso baixo do país, uma vez que a gerenciadora do sistema, a SPTrans, exigiu que as empresas contratadas do sistema estrutural adquirissem ônibus piso baixo para as modalidades Padron, Articulado e Biarticulado.
Embora tenha demorado alguns anos, a partir de 2007, as empresas compraram boa parte de suas novas frotas em piso baixo, fazendo com que os ônibus com piso convencional fossem aos poucos se restringindo as linhas mais locais ou até mesmo retirados do sistema. Após mais de 10 anos, a maioria das empresas do sistema estrutural possui ao menos um tipo de ônibus com baixo, sendo em sua maioria articulado com 23 metros, os chamados “super articulados” fabricados com chassi O-500UDA da Mercedes-Benz.
Embora tenha demorado alguns anos, a partir de 2007, as empresas compraram boa parte de suas novas frotas em piso baixo, fazendo com que os ônibus com piso convencional fossem aos poucos se restringindo as linhas mais locais ou até mesmo retirados do sistema. Após mais de 10 anos, a maioria das empresas do sistema estrutural possui ao menos um tipo de ônibus com baixo, sendo em sua maioria articulado com 23 metros, os chamados “super articulados” fabricados com chassi O-500UDA da Mercedes-Benz.
Embora no Brasil a ideia de ter ônibus com piso baixo como maioria seja utópica, muitos países tem adotado esse tipo de ônibus para garantir mais conforto, segurança e maior acessibilidade aos passageiros. Dos Estados Unidos a Suíça, de Amsterdã a Santiago, grandes capitais tem investido pesado na renovação da frota com esses tipo de ônibus. Claro que dentro dos limites lógicos, o Brasil mesmo se quisesse não poderia erradicar os ônibus com piso convencional, pois há casos em que os ônibus com piso rebaixado podem não conseguir operar devidamente por conta de problemas no sistema viário ou ruas estreitas.
Existem dois tipos de nomenclaturas que diferem os ônibus piso baixo parcial e piso baixo total:
Low Entry (sigla LE), em português Entrada Baixa, nomeia os ônibus que possuem sua porta dianteira para embarque em nível com a calçada, tendo ou não seu desembarque em nível também, dependendo da configuração de portas do ônibus.
Low Floor (sigla LF), em português Piso Baixo, refere-se aos ônibus que possuem toda a extensão do seu piso interno em nível com o passeio público (calçada ou plataforma), tendo todas as suas portas de embarque ou desembarque em nível.
Além disso, existem atualmente no país quatro tipos de ônibus com piso baixo:
Piso Baixo Dianteiro – Normalmente chamados apenas de Piso Baixo, possuem o piso rebaixado entre a parte dianteira até pouco antes do segundo eixo. Pela existência do motor na parte traseira, não é possível ter o piso baixo total, se restringindo as duas primeiras portas do ônibus (dependendo do layout).
Modelo Padron piso baixo em Brasilia-DF. Foto: Victor Santos (Autor). |
Um dos interiores possíveis do ônibus Padron piso baixo. Foto: Victor Santos (autor). |
Interior de um trólebus piso baixo total. Foto: Victor Santos (autor). |
Somente a Mercedes fabricou esse tipo de ônibus, e somente empresas de São Paulo e algumas de outras cidades adquiriram esse tipo de chassi, sendo aos poucos erradicado após dez anos do inicio da fabricação, que foi encerrado logo depois do lançamento. O principal problema desse modelo era o fato do excesso de degraus no interior do ônibus, pois o acesso pela porta dianteira é por meio de degraus e posteriormente o passageiro precisa descer novamente os degraus para efetuar o pagamento da passagem, e depois subir novamente para conseguir algum assento.
Modelo foi muito utilizado pela Via Sul em São Paulo. Autor: Victor Santos. |
Interior de um ônibus piso baixo central. Foto: Gustavo Bonfate (autor). |
Piso Baixo Traseiro – Sim, isso existiu no Brasil. Foi outra tentativa de atrair os empresários a adquirir ônibus com maior acessibilidade sem gerar grandes custos, assim como o Piso Baixo Central. Consistia em um ônibus com motor dianteiro e piso convencional até o segundo eixo do chassi, sendo a última porta com piso baixo e um box para o cadeirante. O principal problema desse tipo de ônibus é o desconforto ao cadeirante, já por estar no fundo do ônibus, o passageiro sente todos os impactos da via irregular e as trepidações. Somente a Mercedes Benz e a Volkswagen ofereciam essa modalidade, sendo adquirida por pouquíssimas empresas e posteriormente retirado de fabricação.
Tentativa frustrada de vender ônibus piso baixo mais barato. Créditos ao autor na foto. |
Padron – Ônibus de 12 até 15 metros de comprimento que podem variar de dois à três eixos. Normalmente possuem duas ou até três portas. Em São Paulo, os Padron toco possuem quatro portas, sendo duas de cada lado, e os Padron 15 metros (três eixos) possuem cinco portas, três do lado direito e duas do lado esquerdo.
Modelo Padron trucado no padrão exigido pela SPTrans. Foto: Victor Santos (autor) |
Articulado – Possuindo de 18 até 23 metros de comprimento, sendo este último com dois eixos traseiros. Pode ser encontrado com diversos tipos de layouts de portas, de três até seis portas, sendo este último no padrão Sptrans, onde todas as três portas da direita estão em piso baixo, enquanto das três do lado esquerdo, a última possui degraus devido a localização próxima do motor.
Somente o chassi modelo B9Salf ou B360S Articulado da Volvo possuem todas as suas portas em nível baixo.
Somente o chassi modelo B9Salf ou B360S Articulado da Volvo possuem todas as suas portas em nível baixo.
Modelo articulado piso baixo de São Paulo. Foto: Victor Santos (autor). |
Biarticulado – Maior modelo de ônibus piso baixo disponível, sendo este de fabricação exclusiva no Brasil pela Volvo, com o chassi B9 Salf (substituído na linha de fabricação pelo B360S). Diferente dos articulados com motor traseiro, a Volvo produz esse modelo com motor instalado na vertical da carroceria, na lateral esquerda do primeiro carro e entre o primeiro e segundo eixo. O radiador fica localizado acima do teto do salão de passageiros, ou seja, o piso do biarticulado desse modelo é totalmente rente à calçada, com todas as suas portas em piso baixo. Tem seus 27 metros de comprimento e possui um total de sete portas, sendo três do lado direito e quatro do lado esquerdo, para os ônibus no padrão Sptrans.
Biarticulado no padrão exigido pela SPTrans. Foto: Victor Santos (autor). |
Interior de um articulado de fabricação da Volvo: Na direita da foto, o motor do ônibus instalado na lateral esquerda. Foto: Victor Santos (autor). |
Micro – Lançado em 2015, esse é o mais novo tipo de ônibus com piso baixo comercializado no Brasil. Foi lançado pela Volare, subsidiária da Marcopolo, com o nome de Volare Access – de acessível em inglês, e possui duas portas em piso baixo com rampa de acesso e sistema de rebaixamento que facilita o acesso dos passageiros com necessidades especiais. O motor, podendo ser fabricado pela Cummins ou pela BYD na versão elétrica, fica localizado na parte de trás da carroceria, onde o piso fica alto com acesso pelos degraus, semelhante aos ônibus padrons. A Volkswagen também oferece uma versão Low Entry em micro, modelo 8.160 OD.
Micro low entry é a grande novidade para a acessibilidade em linhas especiais. Foto: Gustavo Bonfate (autor). |
Vantagens e desvantagens
Além da facilidade para os passageiros com ou não necessidades especiais, o piso baixo dispensa manutenções com a plataforma elevatória, ou elevador, e garantindo mais independência para os cadeirantes e idosos nos embarques e desembarques. Com acesso pela rampa localizada no piso próximo das portas, o acesso ao veículo pode ser mais rápido e seguro do que pelas escadas em veículos convencionais. Com o sistema de rebaixamento, que faz o ônibus ficar mais baixo e nivelado à calçada ou plataforma, pode-se garantir maior rapidez em embarques e desembarques.
Outra vantagem de se ter ônibus piso baixo é o atendimento das normas de acessibilidade no transporte de acordo com a Norma Brasileira vigente, que garante acessibilidade à todos no transporte público, também estimulando o uso do sistema de ônibus como locomoção por mais passageiros. Também é mais cômodo para o motorista que não vai precisar, em alguns casos, sair de seu assento para manusear um elevador, uma vez que a rampa pode ser manuseada pelos próprios passageiros, sendo puxada do piso através de uma pequena alça.
Porém, as desvantagens que encontramos podem ser resolvidas com soluções simples, como a questão da perda de capacidade de passageiros sentados, um dos diversos motivos do descontentamento de alguns passageiros em relação ao ônibus piso baixo. Como o piso fica mais rente ao nível da rua, as caixas de rodas e o motor impedem a maior utilização do espaço interno, ocasionando em perda de assentos.
Se compararmos um ônibus com piso convencional e motor traseiro e um com piso baixo, o número de passageiros transportados sentados não é tão diferente. O modelo com piso alto transporta, em média, 35 passageiros sentados, enquanto a versão piso baixo transporta 33 passageiros sentados. O que pode variar é a questão do número de passageiros que viajam em pé, uma vez que isso vai depender do layout que a empresa vai adotar ao adquirir o ônibus.
Em ônibus piso baixo total, como é o caso dos biarticulados e alguns trólebus, essa questão teve menos interferência nos assentos para os passageiros. Porém, enquanto um biarticulado com piso convencional pode transportar até 270 passageiros no total (sentados e em pé), um piso baixo biarticulado transporta até 221 passageiros no total, sendo 47 sentados e 174 em pé.
No caso dos trólebus, com chassi fabricados pela HVR e operados pela Ambiental Transportes de São Paulo e pela Metra do ABC Paulista, pelo fato do motor elétrico ter sido instalado no fundo da carroceria e de lado, teve pouquíssima interferência no layout, sendo somente as caixas de rodas que interferem no maior aproveitamento de espaços para assentos.
Na cidade de São Paulo, e em algumas outras cidades, pelo fato de haver a padronização das frotas, os ônibus piso baixo possuem quatro portas, sendo duas a direita com apenas a porta dianteira acessível, e duas a esquerda para atender aos corredores de ônibus da cidade. Isso acaba influenciando no layout dos ônibus, diminuindo o número de assentos e dificultando a locomoção no interior dos ônibus.
Trólebus Busscar Urbanuss Pluss LF: Um dos 21 piso baixo total da concessionária Metra. Foto: Victor Santos (autor). |
Um exemplo disso são os ônibus que trafegam pela zona leste de São Paulo, onde não há corredores a esquerda que necessitam de porta deste lado da carroceria. Como as portas de embarque e desembarque a direita ficam distantes e em níveis diferentes de altura, dificulta na hora do desembarque dos passageiros, sobretudo em linhas mais carregadas. Sem contar o fato de quando a linha trafega em corredores com paradas a esquerda e pontos também à direita, faz com que os passageiros tenham que subir e descer os degraus constantemente, uma vez que a maioria dos assentos estão disponíveis na parte mais alta do ônibus, no fundo.
Uma solução seria a adoção de ônibus Padron com três portas, sendo as duas primeiras em piso baixo, e a última com degrau devido a proximidade com o motor. Esse tipo de layout já é comum em muitas cidades como Brasília, que adotaram em linhas circulares no Plano Piloto.
Embora a padronização das frotas seja essencial para os custos da empresa, por que não considerar a ideia de adotar um layout melhor para atender melhor aos passageiros?
Ônibus piso baixo em São José dos Campos: padrão de três portas podem ser utilizados em linhas que não passam em corredores à esquerda. Foto: Victor Santos (autor). |
Outro ponto sempre discutido é a questão do viário adequado para a operação desse tipo de ônibus, pois não é em qualquer viário que esses ônibus conseguem operar plenamente, embora haja casos em São Paulo que essa teoria foi derrubada com a operação em bairros com viário ruim ou péssimo.
O problema maior muitas vezes é a péssima qualidade do asfalto ou da calçada (quando há) que mesmo para um ônibus piso baixo, fica alto demais para os passageiros. É como comprar um carro ultra moderno para andar em estradas de péssima qualidade.
O problema maior muitas vezes é a péssima qualidade do asfalto ou da calçada (quando há) que mesmo para um ônibus piso baixo, fica alto demais para os passageiros. É como comprar um carro ultra moderno para andar em estradas de péssima qualidade.
Mesmo que o ônibus com entrada baixa tenha sua maior utilização em diversos países, no Brasil, a utilização em massa desse tipo de ônibus pode demorar mais algum tempo, prolongando a comercialização dos ônibus com motor dianteiro e piso alto. Como o viário da maioria das cidades no país é péssimo ou ruim, torna-se complicado a operação dos Low Entry, fazendo com que as empresas deem preferência aos ônibus com motor dianteiro, chamados de "cabritos" pelos entusiastas e motoristas.
Ônibus tipo básico: Motor dianteiro, piso alto e elevador ainda são a preferência de muitas empresas. Foto: Victor Santos (autor). |
Com a larga escala na utilização do sistema BRT – Bus Rapid Transit, o mercado de ônibus com piso alto pode continuar em grande comercialização dependendo do padrão de projeto que será adotado, o que impede a restrição da venda desses modelos. Embora possa demorar, a acessibilidade melhorada no transporte público pode avançar cada vez mais com esse tipo de ônibus, bastando vontade do poder público em exigir mais das empresas e melhorar as condições para as operações.
Texto: Victor Santos.
Fontes bibliográficas (clique nos nomes para abrir o link): Via Circular, SPTrans (Manual técnico), ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos - Caderno Técnico "Acessibilidade nos Transportes".)
Ônibus do sistema MOVE-BH: Novos sistemas de BRT utilizam ônibus com piso alto para que a plataforma fique à altura do piso do ônibus. Foto: Victor Santos (autor). |
Fontes bibliográficas (clique nos nomes para abrir o link): Via Circular, SPTrans (Manual técnico), ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos - Caderno Técnico "Acessibilidade nos Transportes".)
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