Ônibus da Região Metropolitana de Campinas (Transportes Capellini). Foto: Victor Santos, 2019. |
A cidade de São Paulo hoje possui 135 quilômetros de extensão, atendendo cerca de 3 milhões de passageiros. A SPTrans, atual gestora do sistema, faz a fiscalização e manutenção dos atuais corredores, sendo todos implantados dentro do município. Mas desde 2016, nenhum outro corredor foi entregue pela prefeitura, apenas o Corredor da Berrini recebeu algumas extensões, somente.
Na Região Metropolitana de São Paulo, há três corredores metropolitanos que a EMTU-SP projetou e construiu entre 1988 e 2019, todos com características distintas. A Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo, ou somente EMTU-SP, que foi fundada em 13 de dezembro de 1977 a partir do Decreto Estadual n°1.492. A empresa não opera nenhuma linha oficialmente, mas gerencia, coordena e planeja as operações através das empresas concessionárias que ela contrata para prestar os serviços.
Entre suas funções, está o estudo e projeto de construção de terminais, corredores exclusivos de ônibus, e até mesmo de sistemas ferroviários, como é o caso do VLT da Baixada Santista. Conheça os corredores que ela projetou e construiu e os possíveis próximos empreendimentos que ela poderá construir no futuro.
Mapa das cinco regiões administradas pela EMTU. Confecção: Victor Santos, 2020. |
Antes de tudo, é preciso conhecer qual a funcionalidade da EMTU para o transporte coletivo, ainda mais considerando que ela administra as seguintes regiões metropolitanas:
- Região Metropolitana de São Paulo (ou Grande São Paulo), sigla RMSP;
- Região Metropolitana da Baixada Santista, sigla RMBS;
- Região Metropolitana de Campinas, sigla RMC;
- Região Metropolitana de Sorocaba, sigla RMS;
- Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, sigla RMVPLN.
Ao todo, são 134 municípios atendidos pelos ônibus metropolitanos administrados pela EMTU, que têm como função melhorar a conectividade e mobilidade entre as cidades sob sua gestão no transporte coletivo. Como as cidades se tornaram mais dinâmicas nos deslocamentos no final dos anos 1970, o papel da EMTU é assegurar que esses deslocamentos sejam feitos de maneira ágil e simples.
Como algumas regiões e percursos possuem uma demanda maior e não possuem ligações ferroviárias, a EMTU teve a responsabilidade de projetar e planejar maneiras de melhorar essas situações, com a construção de corredores exclusivos de ônibus ou construção de terminais e pontos de conexão.
Corredor Metropolitano do ABD
Na década de 1970, a EMTU iniciou estudos junto a Empresa Brasileira de Transportes Urbanos (EBTU, extinta na década de 1990) para a construção do primeiro corredor exclusivo de ônibus metropolitano, o Corredor do ABD. O corredor ligaria, após completo, o terminal São Mateus, zona leste de São Paulo, até o terminal Jabaquara, zona sul, passando pelas cidades de Santo André, Mauá, São Bernardo do Campo, e Diadema, todas do ABC Paulista.
Parte do traçado usado no projeto implantado era de um estudo que a prefeitura de São Paulo havia feito em 1974 para a construção de muitos corredores de ônibus dentro e fora da cidade com o Plano Sistran, que previa a utilização dos trólebus em canaletas exclusivas.
A construção foi iniciada em 1986, com obras entre São Mateus e Santo André, como a construção de um terminal para a integração em São Mateus, 6,9 quilômetros de vias exclusivas ou compartilhadas como tráfego viário comum, e a construção de um pátio de manutenção e operação em São Bernardo do Campo.
Terminal Metropolitano São Mateus: primeiro terminal do corredor. Foto: Victor Santos, 2019. |
Em 3 de dezembro de 1988, foi entregue os 20 quilômetros de extensão entre os terminais de São Mateus e Ferrazópolis, esse já em São Bernardo do Campo, inaugurando o primeiro corredor de ônibus metropolitano do Estado, sendo esse com a ideia original de operação exclusiva dos trólebus.
Inicialmente, a operação era feita pela Companhia do Metropolitano de São Paulo, que tinha como objetivo o planejamento dos transportes metropolitanos, e ligada a EMTU e ao Metrô de São Paulo.
Em setembro de 1990, o trecho restante até o Jabaquara, com os terminais de integração previstos, foram entregues, atingindo os 33 quilômetros de corredores exclusivos. Assim, o corredor pôde atender as cidades de Diadema, Mauá, Santo André, São Bernardo do Campo, além de São Paulo, inicialmente atendidos por 46 trólebus fabricados pela Cobrasma, e depois com um misto de trólebus e ônibus à diesel.
Em 1992, a operação dos ônibus foi transferida para empresas terceirizadas contratadas pela EMTU, mas em 1997, foi feita a primeira concessão nos transportes coletivos do país, quando a empresa transferiu toda a responsabilidade da manutenção, operação, fiscalização e planejamento do corredor a Concessionária Metra S/A.
A Metra ficou responsável pela manutenção das vias, paradas e terminais, além de manter e operar os trólebus e ônibus a diesel em operação, enquanto EMTU ficou encarregada de fiscalizar e coordenar a concessão, assegurando muitas questões de integração e fiscalização.
Em 2010, a EMTU inaugurou a extensão Diadema - Morumbi, chegando na região da Berrini através do corredor que, devido a necessidade de acomodar as linhas municipais de São Paulo nesse eixo, o corredor é muito diferente do padrão do corredor, com embarque à esquerda dos ônibus e segregação mais simples dos carros.
Essa extensão havia sido projetada também em 1986, mas as obras nunca foram entregues e apenas uma parada e uma curta extensão ficaram prontas. São 11,2 quilômetros e 21 paradas para o embarque e desembarque.
Corredor ABD: trecho São Matues - Santo André. Mapa: Victor Santos, 2020. |
Corredor ABD: trecho Santo André - Ferrazópolis - Jabaquara. Mapa: Victor Santos, 2020. |
Corredor ABD: extensão Diadema - Morumbi. Mapa: Victor Santos, 2020. |
Embora os trólebus não sejam mais a maioria na operação, a empresa possui 96 trólebus em operação, 143 ônibus movidos à diesel, transportando cerca de 360 mil passageiros em 43,9 quilômetros de extensão, com 132 pontos de paradas, nove terminais, e conexão com linhas de metrô e de trem metropolitano, facilitando do deslocamento dentro e fora do ABC. O corredor é conhecido com o nome não oficial de "Corredor da Metra", e mudou muito a imagem da região por onde passa.
Corredor Metropolitano Biléo Soares
Criada em 2000, a Região Metropolitana de Campinas possui uma população de cerca de 3 milhões de habitantes, sendo Campinas a maior cidade da região e a única a possuir corredores exclusivos de ônibus, todos com a operação exclusiva dos ônibus municipais. Com isso, foi necessário um projeto que melhora-se o deslocamento entre as cidades e Campinas.
Em 2007, a EMTU iniciou estudos para a construção do Corredor Metropolitano Biléo Soares (Noroeste), que ligaria Campinas as cidades ao noroeste da Região Metropolitana de Campinas, como Americana, Hortolândia, Nova Odessa, Sumaré, Monte Mor e Santa Bárbara d'Oeste. Também estava no projeto a construção de cinco novos terminais e novas estações de transferência.
Mapa da extensão total do projeto do corredor. Fonte: EMTU/Emprendimentos. |
Em março de 2010, foram entregues as obras do corredor exclusivo na avenida Lix da Cunha, com 2 quilômetros de extensão, três paradas e um novo terminal em Campinas, o Terminal Metropolitano Prefeito Magalhães Teixeira. O corredor adotou o mesmo padrão que os corredores municipais de São Paulo: Paradas à esquerda da via, embarque e desembarque pelo lado esquerdo dos coletivos, faixas de ultrapassagem e pavimento rígido nas paradas.
O projeto, quando completado, deve ligar Campinas à Santa Bárbara d'Oeste, passando pelas cidades de Nova Odessa, Sumaré, Hortolândia e Monte Mor, com 32,7 quilômetros, sendo apenas 7 quilômetros de vias exclusivas para os ônibus.
Parada do trecho em Hortolândia do Corredor Noroeste. Foto: Victor Santos, 2020. |
Recentemente visitamos o trecho em Hortolândia, onde as vias e paradas estão com as obras avançadas, porém ainda não entregues oficialmente, mas o Terminal Metropolitano de Hortolândia já está em operação, além Americano e Santa Bárbara d'Oeste.
Há planos de construir outras extensões do corredor, ligando Monte Mor ao eixo principal, e ao terminal Campo Grande, região oeste de Campinas. Quando estiver concluído, o corredor transportará cerca de 30 mil passageiros por dia, com uma frota predominantemente de ônibus convencionais com motores à diesel.
Corredor Metropolitano Guarulhos - São Paulo
São Paulo e Guarulhos são as duas cidades mais populosas da Grande São Paulo, mas ainda não contava com uma ligação de alta capacidade entre si, uma vez que somente em 2018 que a CPTM inaugurou a primeira linha na cidade, a Linha 13 Jade. Na década de 1980, a EMTU estudou uma ligação entre a estação de Jaçanã e Guarulhos, com uma extensão até o Aeroporto de Guarulhos, isso atrelado a ideia da extensão da então linha Norte - Sul do Metrô (atual 1 Azul) até o distrito em São Paulo. Posteriormente o plano foi adiado e posteriormente cancelado.
Vale ressaltar que entre 1910 e 1965, a cidade era atendida por um ramal da extinta Estrada de Ferro da Cantareira, fundada em 1883, inaugurando sua linha principal, entre o centro de São Paulo e a Cantareira, em 1893. O ramal, denominado Ramal Guarulhos, chegava a cidade e à base aérea de Cumbica passando por onde hoje percorre o Anel Viário de Guarulhos, ramal este extinto em maio de 1965.
Em 2010, os planos de um corredor ligando as duas cidades voltou a ser pauta nos assuntos, com a EMTU trazendo de volta o projeto, porém revisado e divido em cinco fases, sendo o primeiro trecho foi entregue em junho de 2013, com 3,7 quilômetros entre o novo Terminal Metropolitano do Taboão e o Terminal Metropolitano do Cecap.
A segunda fase contemplava a construção do Terminal Metropolitano da Vila Galvão e a extensão de mais 6 quilômetros de extensão do corredor, que foram entregues em 2014, embora 2,7 quilômetros sejam em vias compartilhadas com os carros.
Terminal Metropolitano Taboão: linhas municipais e intermunicipais atendem ao terminal, conectado a Estação Aeroporto-Guarulhos da CPTM. Foto: Victor Santos, 2019. |
As demais fases permitiriam a chegada do corredor na estação Tucuruvi da linha 1 Azul do Metrô, passando pelo Jaçanã, fase essa que está em revisão de projeto, e chegar também na futura estação Tiquatira da linha 12 da CPTM, além da construção de mais um terminal metropolitano (Vila Andres). Assim, o corredor quando estiver completo transportará 250 mil passageiros por dia, com 20 quilômetros de extensão, e melhorando a mobilidade sobre pneus da cidade. Parte do trajeto do corredor passa por onde existia o Ramal de Guarulhos da E.F. da Cantareira.
Mapa do corredor de Guarulhos com as paradas oficiais. Confecção: Victor Santos, 2020. |
O projeto do corredor seguiu diretrizes semelhantes aos usados nos corredores de São Paulo, como embarque pelo lado esquerdo dos coletivos, mas com alguns melhoramentos, como:
- Área de cobertura nas paradas ampliado, protegendo mais os passageiros de questões climáticas;
- Informações sobre linhas e arredores melhorado;
- Terminais de integração amplos e em pontos estratégicos do corredor;
- Racionalização das linhas municipais e intermunicipais.
No futuro, há planos da EMTU de estender o corredor até o bairro do São João, em Guarulhos, atendendo aos moradores da região nordeste da cidade. O corredor é integrado com a rodoviária de Guarulhos, e com a linha 13 Jade da CPTM nas estações Guarulhos - Cecap e Aeroporto - Guarulhos respectivamente.
Atualmente, o corredor atende à cerca de 40 mil passageiros por dia, com 19 paradas, três terminais e integração tarifária com o sistema municipal de Guarulhos. Embora curto em extensão e com possíveis melhoramentos, o corredor tornou-se importante para os primeiros passos na mudança da mobilidade da cidade.
Corredor Metropolitano Itapevi - São Paulo
Localizado na região oeste da Grande São Paulo, o projeto do corredor ligando as cidades de Itapevi a São Paulo, passando pelas cidades de Jandira, Barueri, Carapicuíba, e Osasco. O desenvolvimento dessa região começou em meados de 1930 e 1940, e assim como o caso de Guarulhos, a EMTU na década de 1980 iniciou estudos para a construção de um corredor exclusivo de trólebus entre o Largo do Batata, em Pinheiros, até Osasco, projeto não levado para frente.
Há trechos em operação parcial, e obras concluídas porém não entregues para a operação. O trecho entre Itapevi e Jandira, ambas com um terminal existente, está em operação, enquanto as obras do trecho restante até o Terminal Metropolitano do Km 21 (Luiz Bortolosso) seguem parcialmente em construção, com paradas e terminais ainda em obras.
Mesmo constante em alguns mapas metropolitanos de transporte, apenas o trecho de 5 quilômetros de extensão entre Itapevi e Jandira, com sete paradas apenas em operação. Quando completado, o corredor terá 23,6 quilômetros, previsão de 90 mil passageiros, e integrando as regiões com a linha 8 Diamante da CPTM, que percorre paralelo ao corredor.
Mapa do corredor de Itapevi - São Paulo: somente o trecho entre Itapevi e Jandira está operacional. Fonte: EMTU/Empreendimentos. |
Os futuros corredores projetados pela EMTU
Corredor BRT Metropolitano Perimetral Leste: Dentro os projetos, este é o que mais interessante pela integração com duas regiões importantes da Grande São Paulo, o ABC Paulista e a cidade de Guarulhos, passando por parte da zona leste de São Paulo. Partindo do Terminal Metropolitano de São Mateus, de onde parte o Corredor do ABD, segue por quase toda a totalidade da avenida Jacu Pêssego, passando pela estação Dom Bosco da linha 11 da CPTM, chegando em Guarulhos pelas avenidas Santos Dumont e Monteiro Lobato, terminando no atual Terminal Metropolitano do Cecap, integrando-se também com o Corredor Metropolitano de Guarulhos.
Com 22 quilômetros, 15 estações, e demanda prevista de 175 mil passageiros por dia, o corredor esta em fase de projeto funcional no trecho da avenida Jacu Pêssego.
Mapa do corredor Perimetral Leste. Fonte: EMTU/Empreendimentos. |
Corredor BRT Metropolitano Perimetral Alto do Tietê: Com o projeto funcional concluído, o corredor com 20 quilômetros de extensão deve ligar a estação Ferraz de Vasconcelos da CPTM a cidade de Arujá, passando pelas cidades de Poá e Itaquaquecetuba. O BRT deve melhorar a mobilidade entre essas cidades do Alto do Tietê, integrando essas cidades com o sistema ferroviário e diminuindo o tempo excessivo gasto pelos passageiros nesse percurso com linhas comuns. É previsto uma demanda de 80 mil passageiros por dia no sistema.
Mapa do corredor do Alto do Tietê. Fonte: EMTU/Empreendimentos. |
Corredor BRT Metropolitano Alphaville: Ainda em estudos, o corredor ligaria a estação de Barueri à Cajamar, passando por Santana do Parnaíba e, obviamente, pela região do Alpaville, um dos centros financeiros mais importantes da região.
Ao todo, são 68,2 quilômetros de corredores exclusivos construídos pela EMTU, sendo dois na Grande São Paulo, mas também há os terminais metropolitanos, totalizando 19 terminais administrados pela empresa.
Muitos dos projetos que a empresa faz depende, sobretudo, de autorizações das secretarias das prefeituras de cada cidade, sendo, muitas vezes, uma decisão política pelo favorecimento ou não do projeto. A EMTU possui muitos projetos que podem transformar a mobilidade urbana das cidades onde projeta seus corredores, mas não há um bom diálogo entre ela e as prefeituras, sendo seu ponto mais fraco.
Trólebus da concessionária Metra em operação pelo corredor ABD. Foto: Victor Santos, 2019. |
Texto: Victor Santos.
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