Série 9500 chegando na estação Tamanduateí com destino a Jundiaí. Foto: Victor Santos, 2021. |
Em 4 de maio
de 2021, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) estreava o inusitado Serviço 710, uma
união entre as linhas 7 Rubi (Brás - Francisco Morato - Jundiaí) e 10 Turquesa
(Brás - Rio Grande da Serra). O serviço permitiria que o usuário viajasse por
cerca de 100 quilômetros entre o ABC Paulista e o Aglomerado Urbano de Jundiaí
sem a necessidade de trocar de linhas no percurso.
Essa
operação chamou a atenção no início por fazer a ligação direta entre vários
municípios em uma única linha. Embora seja um serviço elogiado pelos
passageiros, sua operação corre o risco de ser extinta no futuro.
Embora
pareça novidade para os passageiros atuais, este tipo de serviço já era
amplamente operado pela antecessora da CPTM nas duas linhas, a Companhia
Brasileira de Trens Urbanos, ou CBTU, que realizava viagens diretas entre as
estações de ambas as linhas. Na realidade, não existia separação das linhas 7 e
10, que formavam parte da antiga linha Santos - Jundiaí da São Paulo Railway,
depois Estrada de Ferro Santos - Jundiaí.
A Noroeste -
Sudeste era uma única linha, partindo de Jundiaí, já fora da região
metropolitana de São Paulo, e chegando em Paranapiacaba, a famosa Vila Inglesa
no ABC Paulista, atendendo todas as cidades no percurso. Para atender a
crescente demanda de passageiros, ao mesmo tempo flexibilizar a já restrita
operação, havia as viagens parciais dentro dessa imensa linha de mais de 111,5
quilômetros.
Mapa da antiga linha Noroeste - Sudeste da CBTU. Mapa: Victor Santos, 2022. |
Por fotos
antigas, é possível observar que alguns trens faziam percursos menores como
Pirituba - Santo André ou Francisco Morato - Mauá, todos passando pelas três
principais estações centrais de São Paulo: Barra Funda, Luz e Roosevelt (atual
Brás). Além dos trens urbanos, a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima
(RFFSA), empresa mãe da CBTU, manteve o transporte de passageiros de longo
curso até meados de 1995 ligando Jundiaí a Santos. Este parava em poucas
estações.
Trem série 700 (depois 1700) na estação de Pirituba. Note que o destino consta como "Mauá". Foto: retirado da internet, créditos ao autor. Fonte: Skyscraper. |
Com a
fundação da CPTM em 1992 e a transferência das operações da CBTU para a
companhia paulista, logo ela extinguiu a Linha Noroeste - Sudeste para
recondicionar a pouca frota disponível para o início de suas operações. Na
época, a empresa operava essa linha com as séries 101 (depois Série 1100),
400/431 (depois Série 1400/1600) e 700 (depois Série 1700).
A baixa
disponibilidade de frota naquela época, causada pela falta de investimentos do
Governo Federal na CBTU, ocasionou em problemas com intervalos entre os trens
irregulares, falhas constantes e até acidentes. Visto isso, a CPTM deu
preferência em reformar ou modernizar a frota operante, além de adquirir mais
trens nos anos seguintes.
Placa indicando o destino Paranapiacaba na estação de Piqueri. Foto: José Luís da Conceição. Acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo. |
Por isso
talvez a companhia preferiu dividir uma linha com mais de 100 quilômetros de
extensão em quatro partes, formando duas linhas: a Linha A Marrom entre Brás e
Francisco Morato (trecho principal), e a Linha D Bege entre Luz e Rio Grande da
Serra (trecho principal).
O trecho Francisco Morato e Jundiaí tornou-se a
extensão operacional da Linha A, enquanto o trecho pós Rio Grande da Serra
ficou como extensão operacional da Linha D, trecho extinto em novembro de 2002.
Após essa
mudança, a frota de ambas as linhas também tornou-se diferente, com as séries
1100, 1400, 1600 e 1700 fazendo o percurso norte (Linha A), e somente as séries
1100 e 2100 (adquirida em 1997) fazendo o percurso sul (Linha D), embora havia ainda
algumas aparições das demais séries de trens nesse trecho.
Antiga estação provisória de Francisco Morato, onde à direita está a série 1700 do trecho principal, e à esquerda o 1700 da extensão operacional. Foto: Yuri Gabriel. |
Com as
mudanças após as reformas nas estações Brás e Luz, as linhas A e D passaram a
fazer conexão apenas na Estação da Luz, onde ambas faziam terminal. E foi assim
até meados de agosto de 2011, quando a CPTM encurtou a linha D (desde 2008
Linha 10 Turquesa) na estação Brás. Na época, alegaram que seria provisório
para alterar os equipamentos de via no trecho Brás - Luz.
Porém, após
o prazo de interdição, a linha permaneceu operando com a estação Brás sendo
terminal, sem conexão com a então Linha 7 Rubi (antiga A Marrom) e oferecendo
como opção as linhas de metrô até a estação Luz ou seguir viagem pela Linha 11
Coral entre Brás e Luz. A CPTM alegou que a operação da linha 10 Turquesa na
estação Brás era melhor do que continuar ambas as linhas na Luz, uma vez que
não havia espaço físico para a crescente demanda das linhas.
Série 2100 indo manobrar após o desembarque na Estação Brás. Estação era parada final da linha desde 2011. Foto: Victor Santos, 2017. |
A linha 10
utilizava as plataformas 1 e 2 em Brás para desembarque e embarque
respectivamente, igualmente como a linha 7 na estação Luz, o que viabilizava
uma operação mais segura e rápida para ambas as linhas.
Em 28 de
outubro de 2019, a CPTM realocou a linha 7 Rubi na estação Brás novamente, agora
utilizando a plataforma 1 (onde a linha 10 fazia somente o desembarque) e
conectando novamente as linhas 7 e 10. Inicialmente a operação da linha na
estação era feita apenas em dias úteis, enquanto nos finais de semana e
feriados a linha voltava a fazer terminal na Estação Luz. Embora confuso para
alguns usuários, a medida alegrou os passageiros, que agora não precisariam
fazer duas transferências entre região do ABC Paulista e a estação da Luz ou
Barra Funda.
Nesse mesmo
período de tempo entre 2011 e 2019, a CPTM retirou de operação as séries 1100,
1400, 1600 e 1700, isso com a chegada dos trens mais novos e modernos nesse
período, além da realocação de trens vindos de outras linhas.
Logo no
início da Pandemia do Covid-19 em 2020, a companhia teve que rever as operações
e fixou a linha 7 na estação Brás, inclusive aos finais de semana e feriados, o
que agradou tantos os passageiros da região norte da Grande São Paulo quanto os
passageiros do ABC. Com isso, a frota de ambas as linhas foram padronizadas com
as séries 7000, 7500 e 9500, com as séries 2100 e 3000 na reserva técnica ou em
operação limitada.
No dia 04 de
maio de 2021 a companhia iniciou as operações do Serviço 710, uma união das
duas linhas onde agora os trens fariam viagens entre Jundiaí e Rio Grande da
Serra sem a necessidade de troca de composição na estação do Brás.
Com um total
de 101,2 quilômetros de extensão, 31 estações atendidas e 12 cidades
contempladas, o Serviço 710 agradou muito os passageiros que agora não precisam
trocar de trem na estação Brás, ou utilizar a lotada 11 Coral para chegar na
estação Luz ou Barra Funda.
Painel interno da série 7500 informando o mapa e destino já no Serviço 710. Foto: Victor Santos, 2021. |
Porém, o
serviço já nasceu sob ameaça de ser extinto, já que nesse mesmo tempo a CPTM e
o Governo do Estado de São Paulo estavam com os planos de conceder a Linha 7
Rubi para a iniciativa privada em função do Projeto TIC (Trem InterCidades) São
Paulo-Campinas. O projeto vem se arrastando desde 2020, com entraves entre o
Governo de São Paulo e a União em razão da concessão feita a MRS Logística
nesse trecho.
Sem o desenrolar dessa questão, a operação de ambas as linhas e do serviço permanece, a médio prazo pelo menos, sob administração da CPTM.
Estação Jundiaí. Foto: Victor Santos, 2021. |
Mesmo com
essa união, inicialmente o que foi visto é que o fluxo entre as duas linhas
continuou a mesma coisa, com passageiros do ABC descendo nas estações centrais,
igualmente os passageiros vindos da região norte. São raros, e talvez nulos, os
casos de passageiros que fazem percursos entre Rio Grande da Serra e Francisco
Morato, por exemplo. Pelo menos, não regularmente.
Basicamente,
essa unificação das linhas serviu para a companhia oferecer viagens mais
diretas dentro dos fluxos de São Paulo, evitando transferências nas estações
Brás e Luz, o que também evitou sobrecarregar a Linha 11 Coral, até então única
ligação entre Brás e Luz de 2011 até 2019. Essa unificação também serviu para
distribuir as frotas de ambas as linhas, agora compostas pelas séries 8500 e 9500,
enquanto as séries 7000/7500 foram enviadas para as linhas 8 Diamante e 9
Esmeralda com a concessão de ambas para a Via Mobilidade.
Estação Rio Grande da Serra. Foto: Victor Santos, 2021. |
A unificação
também remeteu aos mais históricos o antigo projeto do Integração Centro do
início dos anos 2000, onde a companhia previa facilitar as viagens entre as
três principais estações: Barra Funda, Luz e Brás. Chegou a existir a extinta
Linha I Integração, que fazia o percurso entre Barra Funda e Brás, sendo
operada pela série 3000, durante as obras de remodelação das estações Luz e
Brás.
Operação
Mapa do Serviço 710 e suas estações. Mapa: Victor Santos, 2022. |
Atualmente,
o Serviço 710 segue em operação com seus 101,2 quilômetros de extensão entre Jundiaí
e Rio Grande da Serra, com cerca de 2 horas de percurso entre ambas as
extremidades.
Porém nem
todos os trens realizam essas viagens, pois a companhia criou os serviços de
loop dentro da linha.
Além das
viagens entre as extremidades, existem os trens que fazem o percurso dentro
desse serviço com o intuito de diminuir os intervalos dentro da linha, além de
melhor distribuir a frota nos horários de maior movimento.
Com isso, as
viagens ficam distribuídas da seguinte forma:
- Jundiaí - Rio Grande da Serra: Todos os dias e horários.
- Francisco Morato - Mauá: Somente em dias úteis nos horários de maior movimento.
- Francisco Morato - Rio Grande da Serra: em horários de pico em dias úteis e sábados.
Além destes,
há também outros loops internos na linha, como os trens que recolhem nas
oficinas da Lapa, seguindo apenas até esta estação, e o Expresso Linha 10.
O Expresso
Linha 10 foi mantido mesmo com a unificação das linhas, tendo sido criado em
2018 para ligar as estações Tamanduateí e Santo André, parando apenas na
estação São Caetano. O serviço havia sido suspenso logo no início da Pandemia
em 2020, retornado no início dos anos 2021 e operado por uma unidade da série
2100 ainda remanescente.
Os
intervalos entre os trens também melhorou ao longo do tempo, entre 6 e 12
minutos nos horários de pico, sendo:
Entre
Jundiaí e Rio Grande da Serra: 12 a 35 minutos (este último aos domingos e
feriados).
Entre
Francisco Morato e Mauá: 6 minutos.
Vale lembrar
que o horário de operação é o mesmo que as demais linhas, mas que os últimos
trens não fazem o percurso inteiro, com o último trem saindo de Jundiaí para
Rio Grande da Serra programado às 22h54 (aproximadamente), e saindo de Rio
Grande da Serra no sentido oposto às 23h14 (aproximadamente). Em dias de obras
de manutenção ou quando há falhas na operação, o serviço pode ser suspenso
também, ficando a dica para sempre olhar as redes sociais ou o site oficial da
companhia e de notícias.
Texto: Victor Santos.
Fontes:
Arquivo Público do Estado de São Paulo: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/web/digitalizado/iconografico/mario_covas